Vítor Costa, in Jornal Público
Apenas os húngaros se revelaram mais pessimistas em Maio. Situação económica é um dos factores que mais deprime os consumidores portugueses
A capacidade de efectuar poupança atingiu o valor de -77 pontos. É o mais baixo desde 1990 e o mais baixo da UE
Os consumidores portugueses estão cada vez mais pessimistas e é preciso recuar a 2003, ano em que Portugal atravessou uma recessão económica, para encontrar dados que mostrem tão pouca confiança no presente e no futuro.
O aumento do preço dos combustíveis e dos bens alimentares, a subida das taxas de juro e o consequente agravamento das prestações de quem tem crédito à habitação, a situação económica do país, ou a total incapacidade para poupar são factores que levam ao actual pessimismo. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pela direcção-geral para assuntos económicos e financeiros da Comissão Europeia referentes a Maio dão conta disso mesmo.
"A evolução deste mês resultou do andamento negativo de todas as componentes, mas principalmente das expectativas sobre a evolução económica do país e financeira das famílias, que também retomaram as respectivas tendências descendentes", lê-se no inquérito de Conjuntura às Famílias divulgado pelo instituto português.
Mas o INE sublinha ainda que, no que diz respeito à avaliação que os portugueses fazem da situação económica do país, registou-se o "valor mínimo desde Maio de 2003", só sendo ultrapassado por uma avaliação mais negativa da apreciação que fazem sobre a evolução financeira das famílias.
E não são apenas estes os factores a deixar os portugueses deprimidos. As perspectivas sobre a evolução do desemprego agravaram-se e as expectativas de poupança diminuíram pelo segundo mês consecutivo.
Líderes no pessimismo
O pessimismo dos portugueses é de tal forma acentuado que, entre os seus parceiros da União Europeia a 27, apenas os húngaros conseguem ser mais derrotistas.
Os dados publicados ontem em Bruxelas mostram que o índice de confiança dos consumidores em Portugal atingiu um valor negativo de 48 pontos. O mínimo da série, calculada desde 1990, ocorreu em 2003 quando este mesmo índice atingiu um valor negativo de 49 pontos. Ou seja, a manter-se a tendência de agravamento do pessimismo, que já se regista desde Novembro do ano passado, facilmente este valor será ultrapassado.
Desagregando os dados divulgados pela Comissão Europeia (numa série que também começou a ser contabilizada em 1990) para explicar o que mais preocupa os consumidores nacionais, verifica-se que há indicadores onde os portugueses nunca se sentiram tão pessimistas.
É o que acontece quando interrogados sobre a situação financeira das suas famílias nos últimos 12 meses, sobre a situação económica do país, também nos últimos 12 meses, ou sobre a capacidade de conseguirem poupar actualmente. Perante as três questões, e desde 1990, nunca os portugueses se tinham mostrado tão pessimistas como em Maio. E são mesmo os mais pessimistas entre os 27 países da União europeia em relação à capacidade de poupar e quando avaliam a situação económica no último ano.