27.5.08

Tempo de espera é o principal motivo de queixa nos hospitais

Alexandra Campos, in Jornal Público

Metade das reclamações são motivadas por problemas de atendimento nos serviços de urgência. Médicos são o principal alvo dos utentes


Os portugueses recorrem cada vez mais aos livros de reclamações para se queixarem dos serviços de saúde públicos. Em 2007, os protestos foram chegando ao ritmo de 108 por dia aos gabinetes de utentes dos hospitais, sub-regiões e centros de saúde. Nos hospitais, mais de metade foram apresentados nos serviços de urgência.

De que se queixam as pessoas que recorrem ao Serviço Nacional de Saúde? Sobretudo do tempo de espera nos hospitais, da falta de cuidados nos centros de saúde e, no que toca a categorias profissionais, dos médicos. Mas também já é significativo o número dos que apresentam reclamações contra os dirigentes dos serviços (ver texto ao lado) - o que prova, segundo a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), que as queixas estão sobretudo relacionadas com "problemas estruturais ligados à organização dos serviços e aos recursos disponíveis".

Os hospitais (85) recolhem a maior parte das reclamações (mais de 26 mil) e aqui a tendência para o agravamento do fenómeno continuou em 2007, ao contrário do que aconteceu nas sub-regiões e centros de saúde, onde até se verificou um ligeiro decréscimo, a nível nacional. Ainda assim, o crescimento foi menos acentuado do que o ocorrido em 2006, ano em que se verificou um aumento significativo.

O retrato das reclamações está traçado no último relatório sobre esta matéria feito pela IGAS. Há anos que a Inspecção observa a satisfação das pessoas que recorrem ao SNS através da análise das reclamações efectuadas nos gabinetes do Utente. Das 39.652 registadas este ano, os inspectores analisaram à lupa 41 por cento, trabalho que deu origem a 174 intervenções "para melhor esclarecimento das situações". A IGAS lembra, mesmo assim, que a taxa de protestos é pouco expressiva quando comparada com a totalidade do movimento assistencial. Em média, por cada mil actos prestados nos hospitais há mais do que uma reclamação (1,38), enquanto nos centros de saúde e sub-regiões a permilagem baixa para 0,35.

No ano passado, o número de doentes a protestar pelo tempo que demoraram a ser atendidos foi superior a 8600, quando em 2004 as queixas por este motivo se ficaram pelas três mil. A demora no atendimento foi, aliás, responsável por mais de um terço das reclamações apresentadas nos hospitais. Já nos centros de saúde o principal motivo de queixa foi o da falta de cuidados. A este nível, as causas podem ser várias: a ausência de substituição de profissionais de saúde, a deficiente articulação entre os centros de saúde e os hospitais, problemas na organização do transporte de doentes.

Estes números podem ser o reflexo do encerramento de alguns serviços de atendimento permanente (SAP) dos centros de saúde, o que terá contribuído para agravar o tempo de espera nas urgências hospitalares, diz Santos Cardoso, do Movimento dos Utentes de Saúde, que defende ser prioritário "investir na articulação entre os serviços do SNS".