23.5.08

Os preços dos alimentos vão continuar a subir e a fome também, avisa a FAO

in Jornal Público

Relatório da OCDE prevê que os preços dos cereais continuem altos nos próximos dez anos, devido à quantidade cada vez maior destinada ao biodiesel


Os preços dos bens alimentares vão continuar altos e a fome pode aumentar no mundo, avisou ontem a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Mas a produção de cereais, por exemplo, continua grande e a aumentar.
No último relatório Perspectivas Alimentares, a FAO diz que os preços internacionais se mantiveram estáveis desde Fevereiro, mas que, comparados com igual período do ano passado, aumentaram 53 por cento. O panorama contrasta, porém, com a produção, que será de 2,2 mil milhões de toneladas, ou seja, mais 3,8 por cento do que em 2007.
"Apesar destes níveis de produção excepcionais para quase todas as culturas, incluindo o arroz, os custos continuam elevados e a volatilidade dos preços não deverá acusar um abrandamento", disse Abdoleza Abbassian, economista da FAO, que apresentou o balanço em Roma.

Um relatório da OCDE citado ontem pelo Financial Times ia ao encontro destes prognósticos. Segundo o estudo, os preços dos alimentos continuarão altos nos próximos dez anos, devido à cada vez maior quantidade de cereais destinados ao biodiesel e ao aumento da procura nos BRIC - Brasil, Rússia, China e Índia.
A FAO prevê o pior: a factura das importações alimentares dos países de fracos rendimentos e o défice das culturas destinadas à alimentação deverá elevar-se a 169 mil milhões de dólares, ou seja, mais 40 por cento do que em 2007. "Isso deverá agravar a situação de privação já inaceitável de que são vítimas 854 milhões de pessoas", disse o especialista.

A solução, segundo Abbassian, passa pelo aumento de géneros em 50 por cento até 2030. Mas para isso é preciso que os Estados e as instituições internacionais reforcem os investimentos na agricultura, a fim de melhor a produtividade.

Uma cimeira de chefes de Estado e de Governo está agendada para os dias 3 a 5 de Junho, em Roma, na sede da FAO, para discutir o problema dos preços e outros, tais como as alterações climáticas, os biocombustíveis e a segurança alimentar. "Esperemos que os líderes mundiais se comprometam a agir e a aumentar o seu apoio financeiro à agricultura", disse o economista da FAO.

Cerca de 2,6 milhões de somalis necessitam de uma ajuda alimentar de emergência em resultado da alta de preços e da seca, anunciou entretanto a organização da ONU, em comunicado. O número de vítimas constitui cerca de 35 por cento da população e é 40 por cento mais alto do que em Janeiro.

O antídoto

Batata pode ser a solução contra a fome

Um antídoto contra o aumento do preço dos cereais pode ser o aumento da cultura da batata. A produção mundial deste tubérculo pode progredir entre dois e três por cento na próxima década, sob o efeito dos países em desenvolvimento da África Subsariana, diz a FAO. Na China, o primeiro produtor mundial de batata, as autoridades estudam propostas para a tornar uma das principais culturas do país, enquanto a Índia poderá duplicar a sua produção nos próximos cinco a dez anos.