António Ramos, correspondente em Joanesburgo, in Jornal de Notícias
Violência contra estrangeiros, mesmo que vizinhos, está a estender-se a várias cidades
Persiste o clima de medo nos bairros operários suburbanos de Joanesburgo. A par dos sete mil moçambicanos que já abandonaram a África do Sul, cresce o número de trabalhadores da Etiópia, Burundi e Zimbabwe que procuram a protecção das esquadras da Polícia enquanto não conseguem abandonar o país.
O JN visitou as instalações da Polícia em Jeppes Town, entrada Leste da cidade de Joanesburgo, e confirmou a subida para 1700 dos residentes no parque de estacionamento desta esquadra.
Fonte policial disse ao JN que "existe a possibilidade de elementos criminosos aproveitarem o fim de semana para provocar mais distúrbios, mesmo sabendo que as autoridades estão atentas à situação".
Num visível aumento da onda de violência, os ataques a trabalhadores estrangeiros, sobretudo africanos, chegaram já à Cidade do Cabo e a Durban, cidade junto ao Índico e visitada neste Inverno por milhares de turistas.
Segundo o ministro responsável pelos serviços secretos, Ronnie Kasrils, "os ataques xenófobos são o resultado do oportunismo de elementos que exploram e manipulam os sentimentos genuínos da população pobre".
Na área metropolitana da Cidade do Cabo registaram-se um morto, seis feridos e 500 deslocados como resultado de uma nova vaga de ataques xenófobos.
Grupos de sul-africanos, munidos de paus e garrafas, atacaram comunidades pobres de imigrantes africanos no bairro de Du Noon, perto de Milnerton. Centenas de residentes começaram a fugir da zona ao mesmo tempo que as forças policiais entravam no bairro para deter os atacantes.
Segundo noticia o jornal "Die Burger", publicado no Cabo, um dos seus repórteres-fotográficos foi agredido e a câmara arrancada quando fotografava um grupo de homens a destruir propriedade de imigrantes.Os distúrbios xenófobos, que começaram no passado dia 12 em Alexandria, norte de Joanesburgo, já fizeram mais de 40 vítimas mortais. Mais de 16 mil pessoas ficaram sem abrigo e muitas centenas feridas com gravidade.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados manifestou "sérias preocupações" com a situação na África do Sul, estimando que o número de deslocados internos ascende a mais de 17 mil.