Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Quebra dos níveis de confiança na indústria, construção e comércio a retalho contribuiram para este abrandamento
Depois da travagem brusca registada no primeiro trimestre deste ano, a economia portuguesa continuou, durante o mês de Abril, a dar sinais claros de abrandamento na actividade económica, com o consumo e o investimento a manterem uma tendência negativa.
De acordo com os dados publicados ontem pelo Banco de Portugal, o indicador coincidente da actividade económica registou, durante o mês passado, a sexta descida consecutiva na sua variação homóloga, atingindo já o valor mais baixo dos últimos dois anos. Entre Outubro de 2007 e Abril de 2008, passou-se de 2,5 para 0,7 por cento, uma das quebras mais acentuadas das últimas duas décadas.
De igual modo, o indicador coincidente do consumo privado caiu para uma variação negativa de 0,2 por cento, o pior resultado desde Julho de 2003, um período em que Portugal enfrentava uma recessão na sua economia.
Os indicadores coincidentes do Banco de Portugal têm como objectivo revelar, recorrendo aos primeiros dados sectoriais já disponíveis (como a venda de automóveis ou a confiança dos consumidores), qual o desempenho da economia portuguesa mês após mês e, deste modo, antecipar quais os números que, mais tarde, o Instituto Nacional de Estatística (INE) irá revelar para o PIB.
O acentuar da quebra dos indicadores coincidentes no início deste ano já teve a sua confirmação na evolução do PIB no primeiro trimestre de 2007, que registou uma diminuição de 0,2 por cento em cadeia e que abrandou para uma taxa de crescimento homólogo de 0,9 por cento.
Perigo de recessão técnica?
Quando o INE revelou esse resultado, o ministro das Finanças, para além de rever em baixa as suas estimativas para o total do ano, disse estar confiante numa reacção positiva da economia já no segundo trimestre e alertou para o facto da Páscoa, em 2008, ter ocorrido em Março, podendo ter prejudicado o ritmo da economia no primeiro trimestre.
No entanto, o que o Banco de Portugal veio agora mostrar, com a publicação dos seus indicadores de conjuntura, é que a tendência negativa se manteve em Abril - um mês em que, ao contrário do ano passado, não se celebrou a Páscoa -, aumentando os receios em relação a uma travagem mais grave da economia portuguesa e fazendo regressar o receio de ocorrência de uma recessão técnica.
Para que tal aconteça, de acordo com a definição habitualmente usada, é preciso que no segundo trimestre do ano volte a ocorrer uma variação negativa do PIB face aos três meses imediatamente anteriores. "Temos estado a apontar para uma evolução mais positiva no segundo trimestre, mas a verdade é que os indicadores coincidentes não apontam nada nessa direcção", reconhece Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI. Ainda assim, entre dizer que uma recessão técnica é possível e dizer que é provável ainda vai um grande passo. "Embora o consumo e o investimento estejam mais fracos, acredito que se possa registar um crescimento positivo no final do presente trimestre", afirma a especialista. Em relação ao efeito da Páscoa nestas contas, afirma que "não é evidente qual o tipo de impacto que pode ter", já que a produção industrial diminui, mas o turismo aumenta.
A quebra dos níveis de confiança na indústria, construção e comércio a retalho e os resultados muito fracos nas compras de veículos comerciais e cimento foram alguns dos desenvolvimento que mais contribuíram para a diminuição dos indicadores coincidentes em Abril.