31.5.08

O pobre virou arma política

Paulo Baldaia, in Jornal de Notícias

O combate político à pobreza em que vivem quase dois milhões de portugueses revelou, esta semana, que pobre é o espírito de muitos dos políticos que elegemos. Números de 2004 serviram para fazer propaganda contra quem nos governa em 2008, mas propostas para inverter o caminho é coisa que ninguém apresentou.

Até parece que os políticos, quando estão na Oposição, gostam de estudos que mostrem, pela enésima vez, que Portugal é um país de desigualdades. As responsabilidades colectivas, dos políticos e de todos os outros cidadãos, é coisa que não existe.

Triste país em que os anos passam e tudo parece permanecer na mesma. Sabemos que há hoje menos pobres do que há dez anos, mas sabemos também que a riqueza quando aparece não é para todos. Não somos capazes de distribuir com justiça a riqueza que produzimos.

E nesta demagogia em que as oposições usam o pobre como arma política contra quem estiver no governo encontra-se uma das principais razões para que tudo fique na mesma. Partidos que fazem pactos de regime para a Justiça, para a Lei Autárquica e para muitas outras coisas deveriam ser capazes de fazer um pacto contra a pobreza.

Não se acaba com a pobreza por decreto, claro está! Mas talvez a sociedade perceba melhor a urgência deste combate se aqueles que elege, sem espaço para demagogias, fizeram deste combate uma vontade de todos.

São precisas mudanças de mentalidade. Ficamos orgulhosos dos milhões que ganham Mourinho ou Cristiano Ronaldo, sonhamos com esses milhões e com outros, queremos os nossos ordenados aumentados, mas raramente nos preocupamos com quem nem sequer tem emprego ou com o colega do lado que se esforça e tem um ordenado bem inferior ao nosso.

Não podemos ser altruístas apenas com o dinheiro dos outros. Nem podemos esperar que os governantes, utilizando o dinheiro dos impostos, sejam capazes de fazer o milagre da multiplicação.

P.S.: Enquanto os pobres entraram no debate político para saírem de lá mais à frente sem que nada se resolva, o principal partido da Oposição procura hoje encontrar um novo líder. Entre liberais, populares e sociais-democratas não falta quem queira dar atenção aos mais desfavorecidos, mas os militantes procuram apenas perceber quem os pode levar mais depressa de regresso ao poder.

É bem capaz de ser verdade. Sempre se disse que o PSD é o partido que melhor reflecte a sociedade portuguesa. É o partido mais ecléctico, o partido mais português. Muito na linha de primeiro eu, depois eu e, finalmente, eu. Os pobres dão tanto jeito para fazer política. Fica bem em qualquer discurso.