Paulo F. Silva, in Jornal de Notícias
"Falar das crianças-soldados é falar de uma das novas formas de escravatura e de um dos maiores insultos à consciência e ética humanas" - escreve Fernando Nobre, fundador e presidente da Assistência Médica Internacional, no prefácio da edição portuguesa deste livro de um jornalista e embaixador da Boa Vontade das Nações Unidas. E para melhor falar, dá-se rostos, contam-se histórias na primeira pessoa. É o que faz Jimmie Briggs, levando o leitor pelo Ruanda, Colômbia, Sri Lanka, Uganda e Afeganistão através de relatos de crianças que não foram meninos. Exemplar, a meu ver, é a história vivida no Afeganistão, para onde Briggs viajou em Fevereiro de 2002 à procura da pessoa que, três meses depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, matou o sargento Nathan Ross Chapman, o primeiro soldado norte-americano a morrer em combate na chamada Operação Liberdade. Briggs não encontrou o assassino, um rapaz de 14 anos de quem, entretanto, todos perderam o rasto. E só não se avistou com o pai porque "provocar uma rixa sangrenta, não era de todo o objectivo" da sua estada. Mas percebeu que "Chapman e o rapaz perderam tudo o que eram e tudo o que poderiam ter sido. Chapman foi para o Afeganistão para vingar o 11 de Setembro e proteger os Estados Unidos. O rapaz que o matou fizera-o para vingar anos de sofrimento e mortes de familiares, para proteger o islão e, em última análise, para alcançar um local melhor do que aquele onde vivia". Agora ninguém pode dizer que, afinal, não sabia...