30.5.08

“Governo português deve por cobro ao aumento dos bens alimentares”

in Diário dos Açores

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal (REAPP) afirmou que "há cada vez mais famílias a queixar-se do aumento dos bens essenciais, como o pão, por exemplo, e a situação tem tendência a piorar".

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal (REAPP) apelou ontem à intervenção do Governo para "pôr cobro" ao aumento dos preços dos bens alimentares que "atinge sobretudo os mais pobres".

"Tenho famílias no centro da cidade do Porto que dispõem apenas de 13 euros por dia. Famílias com filhos e netos", frisou o padre Jardim Moreira em declarações à agência Lusa.

Estes "são dados concretos" que, segundo o presidente da REAPN, "obrigam o Governo a rever as suas actuais políticas".

O tema do aumento dos bens alimentares essenciais está a ser tratado numa reunião das Nações Unidas que está a decorrer desde segunda-feira na Suíça.
O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, e os dirigentes das 27 agências e organizações das Nações Unidas estão reunidos em Berna, Suíça, para elaborar um plano de ataque face à crise provocada pelo disparo dos preços dos produtos alimentares.

Ontem, a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial anunciaram que vão criar uma "força-tarefa" para combater a alta sem precedentes dos preços de produtos alimentares em escala mundial.

Entre outras medidas, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, pediu que os países parem de impor restrições às exportações de alimentos como forma de combater a crise.

O padre Jardim Moreira defendeu, a propósito, que "a economia e a política tem de estar ao serviço da sociedade civil e não o contrário. É preciso tomar consciência da realidade e avançar com soluções", considerou o responsável.

"É preciso uma maior solidariedade e equidade na repartição de bens entre ricos e pobres", disse.

Jardim Moreira frisou que é urgente "encontrar um equilíbrio para a distribuição da riqueza".

Em seu entender, "enquanto os governos estiverem dependentes do poder económico não serão capazes de resolver os problemas. Muitas vezes só avançam com soluções quando pressionados pelas bases".

"Há cada vez mais famílias a queixar-se do aumento dos bens essenciais, como o pão, por exemplo, e a situação tem tendência a piorar", disse.

O responsável admitiu que a escalada dos preços possa originar "tensões sociais" uma vez que "a estabilidade social e política depende da estabilidade dos povos".
Uma das soluções apontadas por Jardim Moreira passa pelo incentivo à agricultura, no sentido de permitir que "muitas famílias possam auto-sustentar-se".

"É fundamental aumentar a produção de cereais. Ainda há dias um comerciante me contou que não tinha sementes para vender. É uma situação que eu considero gravíssima e que obriga a medidas imediatas", frisou o padre Jardim Moreira.
O presidente da REAPN admitiu tratar-se "certamente de uma situação comum a vários países", referindo, a propósito, o tema da reunião das Nações Unidas que está a decorrer desde segunda-feira na Suíça.

O ministro da Agricultura, Jaime Silva, procurou ontem tranquilizar os portugueses, assegurando que os alimentos não vão faltar, embora admita alguma preocupação perante a crise mundial.

As declarações de Jaime Silva foram feitas à TSF no dia em que as Nações Unidas e o Banco Mundial decidiram criaram uma equipa de emergência que vai tentar enfrentar a subida do preço de alimentos como o trigo.

Apesar de não esconder a preocupação, Jaime Silva disse aos «portugueses «para estarem tranquilos» garantindo que «os alimentos não vão faltar», já que o país produz «pão e cereais» e está «no maior mercado do mundo, que é a União Europeia».
O ministro salientou, no entanto, que o Governo português «está preocupado e atento» aos aumentos dos alimentos no país e na UE como tem feito noutras situações.

«O Governo acompanha (a subida dos preços) mas, por exemplo, o aumento do preço do pão chegou a ser apontado para os 50%, e afinal não chegou sequer aos 10%», recordou, garantindo «que no caso do arroz» a situação «vai ser acompanhada para não haver aumentos especulativos».