Ana Cristina Pereira, in Jornal Público
A onda de violência xenófoba que varre a África do Sul está a apavorar milhares de imigrantes de origem africana. "Treze mil pessoas estão a fugir das suas casas para se refugiarem em igrejas e centros paroquiais; a maior parte não trouxe nada", declarou ontem à AFP o porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Jean-Philippe Chauzy.
A violência estourou em Alexandra, nos arredores de Joanesburgo, a 11 de Maio e alastrou-se como uma epidemia. Dois mineiros moçambicanos foram ontem de madrugada espancados até à morte. As autoridades já contam 24 mortos. Pelo menos seis eram de nacionalidade moçambicana, revelou o embaixador de Moçambique na África do Sul, Fernando Fazenda, à Rádio Moçambique.
A violência está a atingir, fundamentalmente, cidadãos do Zimbabwe, de Moçambique, do Malawi, da República Democrática do Congo e do Burundi. O cônsul-geral de Angola, Narciso do Espírito Santo, visitou ontem dois pontos negros (Cleveland e Jepe). Até ao momento, porém, não havia notícias de angolanos mortos ou feridos.
O Governo cogitava recorrer ao Exército. Entretanto, já reforçou o policiamento nos focos de maior violência contra imigrantes (acusados de contribuírem para o elevado índice de desemprego no país). Durante a noite, 40 pessoas foram detidas (ao longo da semana, 250).
As autoridades estão preocupadas com eventuais efeitos no turismo. "Cada vez mais os africanos escolhem a África do Sul como destino de férias, e estes ataques têm certamente o potencial de afectar negativamente este mercado, se for isto que as pessoas virem nos seus ecrãs e ouvirem nas suas rádios", comentou o ministro sul-africano do Turismo, Marthinus van Schalkwyk, à agência Sapa.
Em 2012 a África do Sul organizará o Mundial de Futebol. "Os dirigentes sul-africanos condenaram estes ataques e todo o mundo verá que a África do Sul não compactua com estes comportamentos", comentou Danny Jordaan, presidente do Comité Organizador Local do Campeonato do Mundo de Futebol à Sapa.
Autoridades sul-africanas contavam ontem 24 mortos. Pelo menos seis serão cidadãos de nacionalidade moçambicana