in Jornal Público
Em 2008, em cerca de quatro meses e meio, os preços dos contratos para o milho e trigo subiram mais de 30 por cento
Há factores estruturais que explicam o aumento dos bens agrícolas, tendência que se manterá pelo menos nos próximos quatro anos, garantindo analistas à Lusa que os investimentos especulativos ainda não são centrais.
Desde o início de 2008, em cerca de quatro meses e meio, os preços dos contratos para o milho subiram 32,5 por cento; os do trigo 33,5 por cento; e os contratos para a soja aumentaram 5,5 por cento. O Deutsch Bank justifica esta evolução, sobretudo, por factores estruturantes: "Os rácios entre stocks e consumo, nas principais commodities, têm vindo a cair nos últimos anos, o que demonstra bem a alteração (profunda) do mercado." O banco alemão prevê que este movimento possa ainda "agravar-se no futuro", admitindo ser este o cenário "mais provável." A instituição financeira não coloca, por outro lado, a tónica da pressão de subida dos preços nos especuladores. "Temos de nos deixar de desculpas. A culpa não é dos especuladores", diz o analista Alexandre Mota, da Golden Assets. A especulação "é um factor inerente" à actividade dos mercados, segundo João Queiroz, da L. J. Carregosa, assegurando tratar-se de "mais um factor", mas não determinante para explicar a subida acentuada dos preços. "Estruturante é a explosão demográfica mundial, a adopção pela China e Índia do modelo alimentar ocidental [à base de carne, lacticínios e derivados], as alterações climáticas e a falta de solo arável devido ao avanço da urbanização e à falta de água", adiantou o analista.
Já o subdirector do Banco Invest, Paulo Monteiro, justificou também a subida dos preços devido a factores estruturantes. No entanto, admitiu que os mercados de acções e obrigações "estão cada vez mais voláteis" e, como tal, no actual contexto, "os investidores procuram diversificar as suas carteiras, apostando em activos, caso dos bens agrícolas, que têm um bom suporte de preço", admitiu.
Os analistas contactados admitiram ainda que nos próximos anos terá de haver uma alteração das políticas agrícolas a nível mundial, haverá países emergentes que irão beneficiar com a subida do preço dos bens alimentares e que, no caso dos países mais pobres, poderão acentuar-se a tensões sociais e a fome. "Há que reequacionar o paradigma agrícola em todo o mundo, mesmo na União Europeia e nos Estados Unidos", sublinharam. Público/Lusa