Alice Barcellos, in Jornal Público
O programa público-privado Pense Indústria movimenta 26 mil estudantes do ensino básico. Prémios para os melhores projectos desenvolvidos pelos alunos são hoje entregues
Pense, logo escolha. O mote poderia ser esse. O objectivo, até é. A indústria portuguesa quer convencer os jovens a optar por formação profissional em áreas tecnológicas, contornando a ideia, existente entre adolescentes e, principalmente, entre pais, de que algumas destas profissões implicam trabalho pesado, pouco higiénico e mal pago.
Num país ainda a precisar de doutores, há também muito espaço para mão-de-obra qualificada noutras áreas, e foi para isso que nasceu o Pense Indústria (PI), um programa que é uma espécie de operação de charme e que este ano envolveu 26 mil alunos do ensino básico.
Diogo Leitão tem 14 anos, adora matemática e quer seguir engenharia. João Pacheco, 15 anos, gosta tecnologias de informação e comunicação (TIC) e para o próximo ano lectivo pretende seguir um curso tecnológico de informática.
A turma dos dois alunos, do 9.º ano da Escola Secundária Boa Nova de Leça da Palmeira, vai de quinze em quinze dias ao Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica (CATIM) do Porto para participar em acções de formação integradas no programa Pense Indústria, que hoje entrega em Lisboa, no CCB, os prémios para os melhores projectos desenvolvidos por estudantes.
As aulas são orientadas por diferentes formadores e os temas variados: vão desde à robótica e programação até às questões de higiene e segurança no trabalho. Na sessão que o PÚBLICO acompanhou, falou-se sobre condutores de energia e executaram-se experiências práticas que cativaram a atenção dos alunos do 9.º B. "Esta é uma das ideias do projecto, pôr os alunos a mexer nos materiais e a experimentar", explicou Ana Azevedo, formadora do CATIM, que faz parte da Associação dos Centros Tecnológicos de Portugal, entidade que coordena há dez anos este projecto público-privado.
"Os centros tecnológicos são os grandes interessados em ver a indústria a trabalhar com pessoal qualificado", diz o coordenador do projecto, Gonçalo Lobo Xavier. O objectivo é mostrar "a indústria do século XXI". "Ainda há franjas da sociedade que têm uma ideia errada da indústria", afirmou.
O PI tem entrado em contacto com escolas do Norte ao Sul do país, organizando visitas de estudo às empresas, levando os alunos até aos centros tecnológicos - como aconteceu com a turma do 9.º B - ou os formadores às escolas. "Temos desde os melhores alunos até aos mais fracos. Por vezes os menos aplicados na escola chegam aqui e transformam-se", descreveu Ana Azevedo. Da mesma opinião é a professora de Geografia da ES da Boa Nova, Maria Orlanda David, que acompanha os adolescentes ao CATIM: "Os alunos que têm mais dificuldade de concentração e comportamento chegam aqui e ficam mais empenhados." O Governo pretende que, no próximo ano lectivo, metade dos estudantes do secundário frequente cursos profissionais. Não será o caso desta turma de Leça da Palmeira. De vinte alunos, são poucos os que vão seguir a via tecnológica para o ano. Ainda assim, a maioria gosta muito do projecto. "Aqui aprendemos a prática, não damos isto na escola", realçou Marco Santos.
Para o coordenador do projecto, é entre os 12 e 16 anos a melhor altura para sensibilizar os jovens. "Ao chegar às escolas é possível atingir o meio envolvente", nota, assinalando que nos últimos dois anos o número de escolas que procuram o Pense Indústria aumentou 30 a 40 por cento. Uma avaliação do programa realizada pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos revelou que mais de metade dos participantes nestas acções "estão/estavam matriculados em cursos tecnológicos ou profissionais". "Não se pode estabelecer uma relação de causa-efeito, mas o projecto pode influenciar as escolhas profissionais dos jovens", admite Gonçalo Lobo Xavier.