Natacha Pisarenko, in Jornal de Notícias
Hugo Chávez, da Venezuela, o presidente Martin Torrijos, do Panamá, e a chanceler alemã Ângela Merkel, ontem, em Lima
Meia centena de dirigentes da América Latina e da União Europeia iniciaram ontem, em Lima, capital do Peru, uma cimeira intercontinental consagrada ao aquecimento climático e à pobreza na região, que é caracterizada por grandes desigualdades sociais.
Os cerca de 50 chefes de Estado e de Governo que participam na 5.ª Cimeira América Latina-Caraíbas-União Europeia (UE-ALC) deverão aprovar a chamada "Declaração de Lima", com recomendações em matéria climática assim como propostas para resolução da crise alimentar e do tráfico de droga.
A União Europeia (UE) tentará aproveitar a cimeira para reforçar relações comerciais com uma América Latina em pleno crescimento económico, que duplicou o volume das suas exportações para a Europa entre 2000 e 2007, e que representam mais de 91,8 mil milhões de euros. No entanto, a América Latina alberga 194 millhões de pobres (36,5% da população) e 71 millhões de indigentes (13,4%).
Os chefes de Estado e de Governo de ambos os lados do Atlântico, que participam nesta cimeira, trabalharam ontem distribuídos por oito painéis temáticos.
Os países da região estão fortemente divididos entre adeptos do liberalismo e partidários da Esquerda radical, estes liderados pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez. Por ocasião do "Fórum dos empresários", preparatório desta cimeira, o chefe de Estado peruano, Alan Garcia - que lidera uma política liberal no seu país - criticou os regimes populistas da região, condenando-os por "administrarem a miséria". Querendo ser optimista, o presidente do Brasil, Lula da Silva, afirmou que nunca houve "tanta democracia na América Latina".
Relativamente à participação de dirigentes europeus nesta 5.ª Cimeira UE-ALC, destacam-se a chanceler alemã, Ângela Merkel, e os primeiros-ministros português e espanhol, José Sócrates e José Rodriguez Zapatero. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, faz-se representar pelo seu primeiro-ministro, François Fillon. Quanto ao chefe do Governo italiano, Sílvio Berlusconi, e ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pediram desculpas pelas respectivas ausências.
Dos países da América Latina, regista-se a ausência do presidente de Cuba, Raul Castro.
"Desta reunião, os povos esperam soluções, reivindicações e mais objectivos do que declarações ou reuniões rituais", sublinhou ontem Alan Garcia, na sessão de abertura da cimeira, apelando a uma "união continental" em torno da resolução dos problemas em debate.
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, fez um apelo para um consenso político entre UE e a ALC, defendendo que os dois blocos podem fazer valer soluções mundiais. Relativamente às relações entre a UE e a ALC, Barroso disse que Bruxelas está empenhada em avançar com os acordos de associação com a comunidade andina e com a América Central, concluindo estes compromissos em 2009.