Taxa de subutilização do trabalho, que abrange pessoas sem trabalho, mas que não são contabilizadas como desempregadas pelo INE, já vai nos 14,3%, quase três vezes mais do que a taxa de desemprego oficial, mostram os dados esta quarta-feira divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística
A população empregada em Portugal está a diminuir, mas as estatísticas do desemprego não o espelham. Em pleno cenário de pandemia, com o número de inscritos nos centros de emprego a aumentar, as contas do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram uma descida do desemprego em maio, para os 5,5% É apenas aparente já que a taxa de subutilização do trabalho, que abrange pessoas sem trabalho, mas que não são contabilizadas como desempregadas pelo INE, já vai nos 14,2%, quase três vezes mais do que a taxa de desemprego oficial.
A estimativa é ainda provisória mas, em linha com o que vem acontecendo nos últimos meses, a diminuição da população empregada não está a ter a ter uma tradução direta no aumento do desemprego nas estatísticas divulgadas mensalmente pelo INE. Aconteceu em março, voltou a acontecer em abril e agora, novamente, em maio. Os indicadores hoje divulgados pelo organismo oficial de estatística dão conta de que em maio deste ano população empregada em Portugal totalizava 4 646,6 indivíduos, uma diminuição de 2,2% relativamente ao mês anterior e de 4,0% em relação a três meses antes e ao mesmo mês de 2019.
Durante o mesmo mês, a taxa de desemprego - que pressupõe que o indivíduo não tenha trabalho remunerado, tenha procurado ativamente emprego, remunerado ou não, no período de referência ou nas três semanas anteriores e esteja disponível para trabalhar - não só não aumentou como até diminuiu tanto face a Abril (0, 8%), como face ao início da pandemia (menos 0,9%) ou até face há um ano (menos 1,1%), altura em que estávamos longe de antecipar uma crise pandémica global. As estatísticas oficiais situam a taxa de desemprego nos 5,5% em maio.
Como o Expresso já tinha avançado em meses anteriores, o aumento do grupo de inativos e da taxa de subutilização do trabalho, que abrange pessoas sem trabalho, mas que não são contabilizadas como desempregadas pelo INE, estarão a "esconder" uma taxa real de desemprego que será muito superior. De resto, os indicadores de Maio voltam a confirmá-lo: a taxa de subutilização de trabalho situou-se em 14,2%, mais 0,8 pontos percentuais (p.p) do que no mês precedente, mais 1,8 p.p. do que há 3 meses e mais 1,2 p.p. que há um ano.
A contribuir para esta transferência de perfis que tipicamente seriam classificados como desempregados para o grupo dos inativos, integrando a taxa de subutilização do trabalho, está não só a impossibilidade imposta pelo confinamento de procura ativa de emprego, mas também a situação de lay-off que abrangeu 850 mil trabalhadores, que apesar de estarem com contrato temporariamente suspenso, mantinham remuneração e por isso são considerados empregados.
Esta "transferência" tem impacto estatístico. Segundo o INE, em maio de 2020, a população desempregada – cuja estimativa provisória é de 267,9 mil pessoas – registou uma diminuição de 16,0% (50,9 mil) em relação ao mês anterior, de 19,2% (63,7 mil) relativamente a três meses antes e de 21,9% (75,2 mil) por comparação com o período homólogo de 2019. A estimativa provisória da taxa de desemprego de maio de 2020 foi então de 5,5%, diminuindo quer no grupo dos jovens (1,1% para os 19,5%) e dos adultos (menos 0,8% para os 4,5%) face ao mês anterior.
O instituto de estatística realça que "a evolução do mercado de trabalho continua a ser marcada pelo impacto da pandemia COVID-19" acrescentando que "entre fevereiro e maio (estimativa provisória), assistiu-se a uma forte redução do emprego de 4,0%. No entanto, essa redução não foi acompanhada por um aumento na taxa de desemprego (definição OIT), tendo até diminuído nesse período (0,9 p.p.)".
Em contrapartida, reforça, "aumentou significativamente o número de inativos que se integram em dois grupos que estão na fronteira com a população ativa: inativos que, embora pretendam trabalhar, não fizeram diligências ativas para procurar trabalho e inativos que, embora pretendam trabalhar e tenham procurado ativamente trabalho, não estavam disponíveis para iniciar trabalho na semana de referência ou nas duas semanas seguintes". Uma alteração que justifica o aumento que da taxa de subutilização do trabalho que se tem evidenciado nos últimos meses.
Na informação hoje divulgada o INE confirmou a taxa de desemprego de 6,3% em abril, mais 0,1% do que no mês anterior e menos 0,3% do que há um ano. Nesse mês, a população empregada terá registado uma variação negativa de 1,3% face ao mês anterior e de 1,8% face a 2019. A taxa de subutilização de trabalho em abril foi de 13,4%, o que corresponde a um aumento de 1% face a março e de 0,4% face ao mesmo mês de 2019.