3.7.20

Taxa de desemprego continua a descer em Portugal. Onde estão os desempregados?

Cátia Mateus, in Expresso

População empregada voltou a diminuir em maio, mas segundo os indicadores do Instituto Nacional de Estatística o desemprego está em níveis mínimos: 5,5%. Desempregados estão a ser classificados como inativos. Taxa real de desemprego pode já superar os 14%
A pandemia trocou as voltas à estatística e retirou à taxa de desemprego a importância que os analistas lhe atribuiam enquanto indicador de vitalidade económica do país. Não porque ela tenham deixado de ser relevante, mas porque deixou de traduzir a real dimensão do desemprego nacional. Em Portugal, à semelhança de outras economias afetadas pela crise covid, a população empregada está a diminuir, mas o indicador do desemprego não só não aumenta, como até traça uma curva descendente. Nos indicadores divulgados esta quarta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) dá conta de uma redução da população empregada para os 4.646,6 indivíduos. Em apenas um mês o país perdeu 104,9 mil empregos. No mesmo período a taxa de desemprego caiu para os 5,5%, o que compara com a taxa de 6,3% registada em abril. É no grupo dos inativos que estão a ser enquadrados os milhares de desempregados que nos últimos meses têm sido empurrados para fora do mercado de trabalho. E é por isso que hoje a taxa de subutilização do trabalho, que já vai nos 14,2%, é um indicador mais próximo do desemprego “real” do que a própria taxa de desemprego.

A estimativa é ainda provisória mas, em linha com o que vem acontecendo nos últimos meses, a diminuição da população empregada não está a ter uma tradução direta no aumento do desemprego nas estatísticas divulgadas mensalmente pelo INE. Aconteceu em março, voltou a acontecer em abril e agora, novamente, em maio. Os indicadores hoje divulgados pelo organismo oficial de estatística dão conta de que no quinto mês do ano,a população empregada em Portugal totalizava 4 646,6 indivíduos, uma diminuição de 2,2% relativamente ao mês anterior e de 4,0% em relação a três meses antes e ao mesmo mês de 2019.

Por sua vez, a população desempregada era de 267,9 mil pessoas, menos 50,9 mil indivíduos do que em abril. O número é, segundo o INE, influenciado pela atual situação de pandemia, mas também pelas restrições impostas pelo confinamento e que impactam na própria classificação de desempregado. Senão vejamos. O conceito de desempregado pressupõe que o indíviduo cumpra, cumulativamente, três critérios: não tenha trabalho remunerado, tenha procurado ativamente emprego, remunerado ou não, no período de referência ou nas três semanas anteriores e esteja disponível para trabalhar. Ora, durante parte do mês de maio o país ainda só tinha parcialmente retomado atividade e o cumprimento destes requisitos, de forma cumulativa, continuava a ser impossível de cumprir por grande parte dos desempregados, seja por restrições de mobilidade, redução ou interrupção dos canais normais de recrutamento ou suspensão (total ou parcial) da atividade das empresas.

Inativos agregam desemprego real

De resto, os números demonstram-no. Enquanto as populações empregada e desempregada diminuiam, o grupo dos inativos “engordava”. Entre fevereiro e maio, “aumentou significativamente o número de inativos que se integram em dois grupos que estão na fronteira com a população ativa: inativos que, embora pretendam trabalhar, não fizeram diligências ativas para procurar trabalho e inativos que, embora pretendam trabalhar e tenham procurado ativamente trabalho, não estavam disponíveis para iniciar trabalho na semana de referência ou nas duas semanas seguintes”, explica o INE na informação hoje divulgada.

No mesmo período de tempo, o emprego sofreu uma redução de 4,0% e taxa de subutilização do trabalho – que abrange a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar e os inativos disponíveis mas que não procuram emprego” -, um indicador agora mais próximo do “desemprego real”, aumentou para os 14,2% em maio.

Para este aumento terá contribuído sobretudo o grupo dos “inativos disponíveis mas que não procuram emprego”, que agregou em maio mais 97,4 mil indivíduos do que em abril e mais 149,9 mil do quem março deste ano, no início da pandemia. No grupo de profissionais sem trabalho, mas que gostariam de trabalhar ou de trabalhar mais horas, estavam em maio 749,5 mil indivíduos. Uma parte deles serão os novos desempregados.