Nuno Amaral, Rio de Janeiro, Jornal Público
Angela Merkel é uma das líderes europeias que marcará presença em Lima; mas há ausências de peso da UE
Assim que aterrou em Lima, no Peru, Lula da Silva antecipava a polémica que se espera que venha a dominar a Cimeira da América Latina, Caraíbas e União Europeia: "Há uma disputa comercial na génese da recusa aos biocombustíveis", afirmou o Presidente brasileiro.
Dias antes do arranque da cimeira, que junta 50 chefes de Estado, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) agudizou a polémica em torno dos efeitos do biodiesel: no relatório mensal, considerou que os subsídios atribuídos pela União Europeia (UE) ao sector dos biocombustíveis resultaram na escassez de
alimentos e contribuíram para a elevação dos preços dos produtos na Europa e na Ásia, além de provocar problemas ambientais.
"Obviamente que as petrolíferas estão por trás disso e que os países não querem mudar suas matrizes", afirmou Lula da Silva.
Desenvolvimento sustentado: meio ambiente, alterações climáticas e energia e Pobreza, desigualdade e inclusão são os dois temas desta cimeira. Estará em discussão uma proposta da Comissão Europeia, liderada por Durão Barroso, de investir 5000 milhões de euros no combate às alterações climáticas.
Para a maioria dos analistas, o debate sobre os biocombustíveis concentra, inevitavelmente, as atenções. Lula esforça-se por demonstrar que o etanol à base de cana-de-açúcar produzido no Brasil não é o responsável pela crise que provocou protestos em diferentes partes do mundo.
"As pessoas querem despoluir o planeta. Querem desaquecer o planeta, assinar o Protocolo de Quioto. E quando o Brasil oferece um combustível não emissor de dióxido de carbono, elas preferem utilizar o combustível que emite. É uma contradição", afirmou Lula da Silva.
Do lado latino-americano, os presidentes do Peru, Alan Garcia, e da Bolívia, Evo Morales, que divergem sobre um tratado comercial com a UE, acentuam que a produção de biodiesel ameaça as áreas destinadas à produção de alimentos.
Pela parte europeia, as ausências mais significativas na capital peruana serão as do Presidente francês, Nicolas Sarkozy (que se fará representar pelo seu primeiro-ministro, François Fillon), e a do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown. José Sócrates, que já está em Lima, vai abordar a questão da pobreza e sublinhar o "carácter estratégico" das relações de Portugal com o continente sul-americano. Presente estará a alemã Angela Merkel, com quem o Presidente venezuelano Hugo Chávez ameaçou meter-se. Mas Chávez ainda não confirmou a sua presença.
Prevê-se que os chefes de Estado presentes na capital do Peru adoptem um compromisso conjunto sobre alterações climáticas, combate à pobreza e exclusão e tráfico de drogas, a Declaração de Lima.
A América Latina concentra uma larga percentagem de desigualdades sociais, com 194 milhões de pobres, 37 por cento da população, e 71 milhões de pessoas em situação de in-digência. "Crescer sem pobreza e fazê-lo respeitando o ambiente são os grandes objectivos deste diálogo que estamos seguros que terá resultados claros", disse o Presidente peruano, Alan Garcia.