Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
O desemprego não deverá baixar este ano, sobretudo porque a economia está a crescer muito menos do que o esperado. Com um aumento da riqueza nacional tão fraco - o Instituto Nacional de Estatística (INE) admitia ontem apenas 0,9% no primeiro trimestre e o Governo baixou para 1,5% a estimativa para o final do ano -, três economistas contactados pelo JN usaram precisamente a mesma expressão quando questionados sobre a expectativa da descida do desemprego, na qual o Governo ainda ontem insistiu "Se não aumentar, já não é mau".
O INE vai hoje tornar públicos os números de desemprego dos primeiros três meses do ano. Mas, mesmo que os dados mostrem algum abrandamento (há sempre uma diferença entre o que se passa na economia o desemprego), "já será bom se chegarmos a Dezembro com o mesmo desemprego com que terminamos 2007", afirma João Loureiro, da Faculdade de Economia do Porto.
Jorge Santos, professor de macroeconomia no ISEG, acha até estranho que não esteja já a haver mais desemprego. Dados de Março da Segurança Social indicam, precisamente, que o número de beneficiários do apoio está a baixar, o que tem sido atribuído ao combate à fraude.
Em matéria laboral, a nova expectativa ontem revelada pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, continua a apontar para o aumento do número de pessoas a trabalhar, na linha do objectivo de criar 150 mil novos empregos na legislatura.
Inflação, juros e salários
O Governo e o presidente da República, Cavaco Silva, disseram ontem estarem atentos e preocupados com os dados do INE. Mas o facto de Portugal ter uma economia pequena deixa-o particularmente vulnerável ao que se passa no resto do Mundo e dá-lhe poucas armas para contrariar a conjuntura internacional.
É no mercado mundial que se encontram algumas das explicações para a descida das previsões de crescimento económico. Ainda não se conhecem todas as consequências do desmoronar dos créditos à habitação de alto risco nos Estados Unidos, mas a banca já dificulta os empréstimos aos consumidores e empresas; ninguém arrisca tectos para o preço a que chegará a alimentação e o petróleo no fim do ano, pelo que a inflação deverá continuar a subir; e o euro vale cada vez mais dólares, dificultando as vendas de produtos fora da Europa (como Angola, que suportou o crescimento das exportações nacionais do ano passado) e faz subir as importações, mais baratas.
O plano B do crescimento
O que se passa dentro de Portugal também justifica o fraco crescimento da economia e não abre perspectivas risonhas. Os próximos meses prometem redobrar as más notícias às famílias, pelo menos se se concretizar a previsão de Manuel Farto, do Centro Estudos Economia Europeia e Internacional.
A inflação vai subir (atestar o carro e encher a despesa ficará ainda mais caro) e os juros continuarão ao nível de agora, ou mais altos - mas os salários não sairão do sítio, pelo menos na Função Pública, já que Teixeira dos Santos recusou ontem os aumentos salariais reclamados pelos partidos da Oposição e sindicatos. Nem, já agora, baixarão os impostos, além da descida em um ponto percentual do IVA prevista para Julho, disse.
O cenário que se desenha às famílias impede-as de consumirem mais e fazerem crescer a economia, acredita Jorge Santos. Já as exportações deverão abrandar e as importações acelerar, segundo as perspectivas ontem traçadas por Teixeira dos Santos.
A nova palavra de ordem do Governo para estimular a economia é, assim, o investimento do Estado e das empresas, recorrendo aos subsídios comunitários que começam, finalmente, a entrar no país.