17.5.08

INE revela sinais contraditórios na área do emprego

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, 137 mil pessoas deixaram o mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2008


O emprego cresceu e o desemprego retrocedeu ligeiramente no primeiro trimestre deste ano. Mas esta poderá não ser a tendência de fundo. Tem vindo a aumentar o número de pessoas que, tendo ou não emprego, deixaram o mercado de trabalho. Naquele período, foram 137 mil. Por outro lado, registou-se um aumento significativo do emprego no sector público.

Os números do inquérito ao Emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), referente ao primeiro trimestre de 2008, poderiam parecer os mais animadores, dada a conjuntura económica de abrandamento no mesmo período. Mas os números revelam uma situação incerta no mercado de trabalho.

A taxa de desemprego manteve a sua tendência descendente desde o início de 2007. No primeiro trimestre, situou-se em 7,6 por cento, quando há um ano era de 8,4 por cento. No quarto trimestre de 2007, estava em 7,8 por cento.

Esta redução deveu-se a dois factores. Por um lado, a uma desistência na procura de trabalho. Das 439.500 pessoas que estavam desempregadas no 4.º trimestre de 2007, 17,2 por cento (75.600) passaram a "inactivas" no 1.º trimestre de 2008. Ou seja, abandonaram o mercado de trabalho, seja porque desistiram de procurar, seja porque as oportunidades de trabalho não eram satisfatórias ou porque se resguardaram no meio familiar. Trata-se de um fenómeno habitual em conjunturas depressivas. O INE assinala que este número foi, aliás, superior aos verificados nos 3.º e 4.º trimestres de 2007. Esse abandono tocou também 62 mil pessoas empregadas. No total, de um trimestre para o outro, verificou-se a saída do mercado de trabalho de aproximadamente 137 mil pessoas (entre desempregados e empregados).

Mas, por outro lado, o mercado absorveu desempregados. Cerca de 18,5 por cento dos desempregados no final de 2007 encontraram emprego (81.300 pessoas). Apesar de esse valor ter sido inferior ao verificado nos outros trimestres de 2007, a nota do INE, refere que "as saídas do desemprego (...) foram em termos relativos mais intensas do que as saídas do emprego". Mesmo assim, registou-se que 1,2 por cento dos 5,188 milhões de empregados no 4.º trimestre de 2007 passaram para o desemprego (cerca de 62 mil pessoas).

O emprego parece ter tido uma tendência bastante favorável. Os dados do INE registam um crescimento de 1,1 por cento no 1.º trimestre de 2008 quando comparado com o 1.º trimestre de 2007 (mais 55.300 pessoas). Mas foi apenas de 0,1 por cento face ao 4.º trimestre de 2007 (2800 pessoas).

Que tipo de emprego foi esse? Por um lado, empregos aparentemente temporários e pouco ligados a um despertar da actividade económica. Trata-se de empregos sobretudo no sector dos serviços - comércio, alojamento e restauração. O emprego na agricultura e na indústria continua a descer. Depois, trata-se de empregos de contrato a prazo, tendo-se verificado uma diminuição dos contratos sem termo.

Por outro lado, registou-se uma subida significativa do emprego no sector público. No 4.º trimestre de 2007, o seu valor situou-se em 967 mil pessoas, mas, no 1.º trimestre de 2008, elevou-se para 979.500 pessoas. Este deverá ser um elemento a acompanhar no futuro - se esta subida foi ocasional ou representa o sinal de uma opção política de amortecer os efeitos da conjuntura económica.