in Diário Digital
As mulheres, em especial as mais desfavorecidas, correm mais riscos de sofrimento psicológico por estarem mais expostas a situações stressantes, como sobrecarga de responsabilidades e violência doméstica, segundo o coordenador nacional para a Saúde Mental.
Comentando um estudo do Gabinete de Informação e Prospectiva do Alto Comissariado da Saúde (ACS), com base em dados do último Inquérito Nacional de Saúde (2005-2006), do Infarmed e do Instituto Nacional de Estatística (INE), Caldas de Almeida referiu não ser surpreendente que a existência de provável sofrimento psicológico é superior nas mulheres.
O especialista lembrou que o eurobarómetro (departamento de sondagens da União Europeia) já tinha referido que as mulheres em Portugal são ainda mais vulneráveis ao sofrimento psiquiátrico quando comparadas com as do resto da Europa.
«Há eventualmente razões biológicas. Mas estão identificadas a maior exposição das mulheres a factores traumáticos e stressantes que existem em maior número em algumas sociedades: sobrecarga de responsabilidades familiar e profissional e submissão a violência doméstica», declarou Caldas de Almeida à agência Lusa.
O estudo do Alto Comissariado indica que em todas as idades as mulheres correm mais risco de sofrimento psicológico, sobretudo as trabalhadoras não qualificadas residentes na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Em ambos os sexos e em todas as regiões do país, a baixa escolaridade também influencia negativamente, assim como quem não tem nacionalidade portuguesa.
Regista-se maior tendência de sofrimento no caso dos europeus e menor entre os africanos, em ambos os géneros.
«Há uma ligação claríssima entre o sofrimento - e acrescento eu as doenças psiquiátricas - e a pouca qualificação e os meios sociais-económicos mais desfavorecidos. Durante muito tempo houve a ideia, mesmo nos meios intelectuais mais diferenciados, que a depressão ou a ansiedade eram um luxo de gente rica, que não tinha mais nada em que pensar. Mas é absolutamente falso e verificou-se isso também na população portuguesa», comentou.
Esta observação da «ligação estreita» entre sofrimento psicológico e a pobreza deve orientar a organização de serviços e a distribuição de verbas dos programas da saúde mental, que é um «problema de saúde grave, com um peso grande e um impacto enorme e que atinge cada vez mais as pessoas».
Apesar de os números deste estudo não darem a prevalência das doenças psíquicas a nível nacional, são «indicadores prováveis de doenças psiquiátricas», indicou Caldas de Almeida, referindo que dentro de um ano deverá estar concluído o estudo, efectuado por várias universidades, sobre a prevalência dos vários tipos de doença e os factores associados.
Segundo o estudo, a tendência de sofrimento é menor nas mulheres a partir dos 65-74 anos, nas regiões Norte e Centro.
No Alentejo e Algarve, os valores mais altos correspondem à população mais velha. Nos homens, os valores aumentam até aos 75-84 anos, à excepção dos residentes no Centro (valor mais alto nos 65-74) e no Alentejo, valor mais alto regista-se no grupo acima dos 85 anos.
Os agricultores e pescadores apresentam percentagens mais elevadas de provável sofrimento psicológico, o que se verifica em todas as regiões, exceptuando o Alentejo.
Diário Digital / Lusa