Francesco Pischetola, in Jornal de Notícias
Ciganos de Nápoles continuam a ser desalojados pela fúria popular
Da alegada perseguição a imigrantes à justiça popular contra a comunidade cigana, em Nápoles, Itália está a braços com novos problemas internos e, ainda, no centro de uma série de pequenas polémicas ao nível da Europa. Roberto Maroni, que acumula a circunstância de ser o novo ministro do Interior com a condição de membro da Liga do Norte, o partido xenófobo e anti-imigração que se coligou com Silvio Berlusconi, anunciou que terão de ser tomadas "medidas firmes" para garantir a segurança e impedir que a população queira tomar a justiça nas próprias mãos.
Espanha, devido a ser, igualmente, destino privilegiado da imigração clandestina, e Roménia, origem de muitos dos cidadãos detidos ou expulsos de Itália, são os países que pior digeriram a nova política de Roma, materializada na vasta operação policial de que ontem demos notícia. A vice-presidente do Governo espanhol, Maria Teresa Fernández de la Vega, declarou não partilhar da "política de expulsões sem respeito pela lei e pelos direitos humanos dos imigrados", gerando uma minicrise diplomática, sanada após um encontro, no Peru, de José Luis Rodríguez Zapatero com o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Franco Frattini.
Já Bucareste faz valer os direitos de estado-embro da UE. Cristian David, o ministro do Interior da Roménia, saúda o combate à delinquência, mesmo que direccionado para cidadãos romenos, mas salvaguarda que de modo algum poderá ser posta em causa a livre circulação de pessoas no espaço comunitário. Na origem dessa posição estão declarações de Frattini, que quer mudanças no acordo de Schengen, argumentando que o factor determinante é a segurança "Uma revisão é necessária, para verificar a adequação do acordo às fronteiras internas e externas".
A referência a fronteiras internas, naturalmente, põe em causa a natureza da UE, além de contradizer, de certo modo, os próprios governantes italianos, que, na ressaca da operação policial de anteontem, clarificaram que não havia qualquer preconceito contra a comunidade romena (maioritariamente cigana), mas apenas a determinação em combater o crime.