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O presidente da Rede Europeia AntiPobreza/Portugal, Agostinho Jardim, defendeu hoje, no Porto, a criação de parcerias público/privadas locais, regionais e nacionais para apoiar os mais afectados pelos aumentos dos bens essenciais
«É fundamental a criação de uma espécie de 'task-force' para articular este trabalho em rede e evitar o desperdício», propôs Agostinho Jardim.
Apesar de admitir que Portugal já «tomou consciência do problema», o padre Jardim alertou para a necessidade de «avançar de imediato» com medidas concretas, nomeadamente por parte das autarquias.
«As autarquias têm de perceber que têm de tratar dos seus munícipes e não deixar que todo o trabalho seja feito pelas instituições de solidariedade e pela Igreja», disse.
O acesso a bens essenciais, como o leite, a carne e o pão, «está a ficar cada vez mais difícil e a tendência será para piorar», considerou o responsável.
«As pessoas que vão ao supermercado levam o mesmo dinheiro, mas trazem metade dos produtos. É evidente que isto se vai reflectir a médio/longo prazo numa certa desnutrição e alguma fome», sublinhou.
Segundo dados da REAPN, os pobres gastam na alimentação «entre 60 a 80 por cento» do seu rendimento, enquanto os mais ricos gastam «apenas 10 por cento».
«A variante é significativa», frisou o presidente da REAPN.
Agostinho Jardim insiste, por isso, na ideia de «dinamizar o trabalho organizativo a partir das bases, promovendo uma relação de proximidade entre as pessoas, nomeadamente junto de crianças e idosos»
«Os rendimentos não aumentaram, mas as despesas duplicaram. As crianças vão ser muito afectadas», frisou.
Segundo um relatório recente da Comissão Europeia, Portugal é o segundo país da União Europeia onde o risco de pobreza infantil é maior, a seguir à Polónia.
Uma em cada cinco crianças está exposta ao risco de pobreza, conclui o mesmo relatório, onde se lê também que a situação portuguesa nesta matéria não só piorou em termos absolutos face ao último balanço realizado em 2005, como também ficou mais isolada em termos comparativos.
«Crianças desnutridas irão originar uma geração limitada», frisou o presidente da REAPN.
Entre as medidas para combater focos de pobreza, Agostinho Jardim aponta a necessidade de evitar a duplicação de ofertas às mesmas pessoas e o desperdício de bens.
«O nosso país é na União Europeia um dos mais injustos na distribuição de riqueza. Agir quando o incêndio já está em chamas é tarde, é preciso prevenir e agir com prudência», alertou.
O presidente da REAP admite que, no actual cenário, é possível que comecem a surgir «situações de conflito» que podem originar «uma grande instabilidade».
Em seu entender, «é preciso sensibilidade política para antever estas situações».
O padre Jardim Moreira defendeu que «a economia e a política têm de estar ao serviço da sociedade civil e não o contrário. É preciso tomar consciência da realidade e avançar com soluções», considerou o responsável.
«É preciso uma maior solidariedade e equidade na repartição de bens entre ricos e pobres», disse. Jardim Moreira frisou que é urgente «encontrar um equilíbrio para a distribuição da riqueza».
Em seu entender, «enquanto os governos estiverem dependentes do poder económico não serão capazes de resolver os problemas. Muitas vezes só avançam com soluções quando pressionados pelas bases».
Agostinho Jardim avançou que a REAPN irá iniciar um estudo sobre o fenómeno da pobreza em Portugal, para no espaço de um mês ou dois apresentar ao Governo propostas credíveis nesta matéria.
Lusa/SOL


