6.5.08

Aumento da pobreza não se compadece com "posições alarmistas" mas com "cooperação séria" - UMP

in RTP

A afirmação é do presidente do secretariado nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos.

Em declarações à agência Lusa, Manuel Lemos, congratulou-se pelo facto da Comissão Permanente da Caritas Diocesana ter alertado para a necessidade de as autoridades portuguesas criarem programas de apoio a carenciados em virtude da crise alimentar mundial e dos "danos graves" que prevêem que se reflictam em Portugal.

Considerando tratar-se de um alerta "muito oportuno" e de uma "óptima ideia" da Caritas, Manuel Lemos sublinhou, porém, que, apesar de haver dados que apontam para um aumento do número de pobres em Portugal e uma alteração da sua tipologia, a questão da pobreza "não deve ser tratada de forma alarmista".

"É público que a taxa de pobreza em Portugal ronda os 20 por cento e até o próprio primeiro-ministro já admitiu esses valores", disse, aludindo a dados divulgados em Outubro último pela Rede Europeia Anti-Pobreza.

"Até estou convencido de que há mais pobres, porque há muita pobreza envergonhada, mas não podemos analisar a pobreza de uma forma alarmista", frisou.

"Todas as instituições de solidariedade social estão a confrontar-se com um aumento de procura generalizada, o que nos permite ver que há alguma coisa do ponto de vista social que merece um olhar muito atento, mas nenhum Governo de partido algum consegue resolver este problema sozinho, tem que dialogar de forma séria, aberta e leal com as instituições que existem no terreno para em conjunto encontrarem soluções", sustentou.

Sem querer entrar em grandes pormenores, Manuel Lemos disse que a pobreza assume aspectos específicos nas zonas rurais e nas urbanas.

Nas primeiras, "é mais visível" na "solidão, abandono e insegurança, sobretudo dos idosos que viram parte ou a totalidade da família partir para zonas urbanas", enquanto nestas se traduz num aumento da procura de bens alimentares, da população sem-abrigo, entre outros.

"O aumento do preço dos bens alimentares, do dos combustíveis, um certo sintoma de empobrecimento da classe média, uma mudança de valores e dos padrões de consumo da sociedade actual, o aumento do endividamento das famílias" são, segundo Manuel Lemos, alguns dos muitos factores que concorrem para o aumento da pobreza em Portugal.

Alertar a população para que evite desperdícios, continuar a acreditar na solidariedade dos portugueses e na forma como respondem a campanhas de solidariedade - como a do Banco Alimentar realizada no último fim-de-semana e que contou com mais quantidade de alimentos recolhidos - são, segundo Manuel Lemos, algumas das várias formas de combater a pobreza.

"Mas não são únicas nem exclusivas, porque a pobreza só pode ser combatida pelo esforço, atenção e cooperação séria, aberta e leal entre todos: Governo, instituições com experiência e trabalho no terreno e sociedade civil e nunca através do trabalho exclusivo de qualquer destes agentes", frisou.

Entre outras estratégias para combater a pobreza, Manuel Lemos exige a reactivação de reuniões entre o Governo e as instituições que integram o Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social, criticando o Governo liderado por José Sócrates e a tutela directa [Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social] por "em três anos de Governo nunca ter reunido com os organismos que integram o Pacto", assinado em 19 de Dezembro de 1996.

Assinado quando António Guterres foi primeiro-ministro, a comissão de acompanhamento e avaliação do Plano integrava representantes da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Associação Nacional de Freguesias, União das Instituições Particulares de Solidariedade, União das Misericórdias Portuguesas e União das Mutualidades.

"O Plano de Cooperação para a Solidariedade Social é um documento muito bem concebido, que continua actual e que poderia ser um instrumento fantástico para combater a pobreza desde que o Governo se reunisse com regularidade com os parceiros, o que nunca aconteceu", disse.

Sublinhou que "a ausência de reuniões não se deve a falta de vontade dos parceiros, já que a última vez que todos os organismos enviaram uma carta à tutela a pedir uma reunião foi há quatro meses, mas nunca agendaram qualquer reunião", disse.

A Lusa tentou obter uma reacção do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social a este respeito, o que não foi possível até ao momento.