Ana Henriques, in Jornal Público
Aos produtos alimentares juntam-se artigos de decoração e até vestuário. Responsáveis garantem que já não fica caro aderir à causa
Um ano inteiro sem comer chocolate. Nem um pedacinho. A desembaraçada octogenária ainda chegou a perscrutar esperançada os rótulos das tabletes no supermercado durante este longo ano de abstinência, mas qual quê... "Algumas delas nem cacau tinham, já viu?" Ainda por cima ninguém lhe garantia que no seu fabrico não tinha havido exploração de mão-de-obra.
Ontem quebrou-se o jejum de Maria de Nazaré, à custa de saborosas especialidades vindas de paragens exóticas por onde nunca andou, como a República Dominicana e as Filipinas. A idosa foi das primeiras visitantes da nova loja de comércio justo que abriu em Lisboa, na Rua da Prata. Entre os têxteis artesanais, os artigos de decoração, os produtos alimentares biológicos e os cosméticos Maria de Nazaré está nas suas sete quintas. Ou não lhe tivesse o vício entrado no corpo desde que começou a frequentar a Rua de S. José, um estabelecimento do mesmo género. O seu fecho há um ano, por falta de clientela, deixou-lhe amargos de boca: nunca mais encontrou chocolate assim.
A loja inaugurada ontem, Dia Mundial do Comércio Justo, é fruto de uma parceria entre uma cooperativa que já gere outros estabelecimentos no Norte do país, a Equação, e outras organizações que partilham da mesma filosofia. A ideia é vender os produtos abolindo os intermediários, e pagando aos pequenos produtores, quase todos de países do hemisfério sul, um preço justo pelo seu trabalho. Então e o consumidor final não sai prejudicado, ao ter de desembolsar mais dinheiro? Miguel Pinto, da Equação, garante que isso já não acontece, porque à medida que a rede de estabelecimentos cresce os custos descem, numa economia de escala. "Os nossos produtos não são os mais baratos do mercado, mas também já não são os mais caros", assegura.
Maria de Nazaré contagiou a família, que se tornou igualmente adepta do chá verde do Sri Lanka, do café e dos aditivos chocolates. Produtos portugueses é que por aqui não há: "Ainda não temos estrutura para trabalhar com as cooperativas locais." A casa funciona entre as 10h00 e as 19h00, de segunda a sábado, e não fecha ao almoço.
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milhões de pessoas produzem para a rede de comércio justo - em diversos países de África, Ásia e América Latina


