Filomena Naves, Pedro Saraiva, in Diário de Notícias
Cá fora, os carrinhos monta-cargas correm pelo pátio, carregando as enormes boxes repletas de sacos com arroz e massa, salsichas, leite, atum, azeite e muito mais. E estão sempre a chegar mais carrinhas com os alimentos recolhidos nos supermercados. O armazém central do Banco Alimentar Contra a Fome, em Alcântara, fervilha de actividade, com voluntários de todas as idades que se atarefam em várias frentes, num caos que é só aparente.
A 33ª campanha de recolha de alimentos da organização está prestes a findar (terminou ontem ao fim do dia), mas o êxito é já certo, com um aumento de cerca de 15% de donativos em relação à campanha de Maio do ano passado, segundo Isabel Jonet, presidente da organização e coordenadora nacional da campanha.
Só no sábado, primeiro dia desta acção, os 13 bancos espalhados pelos País arrecadaram 960 toneladas de alimentos. E ontem, até às 18.00, já tinham sido recolhidas mais 327 toneladas a nível nacional. Mas, a essa hora, estava ainda a campanha a decorrer e faltava entrar nos armazéns do Banco Alimentar uma boa parte dos produtos recolhidos. "Creio que chegaremos no final a qualquer coisa como 1450, a 1500 toneladas", estimava, em declarações ao DN, a presidente da organização. Em Maio do ano passado foram recolhidas 1300 toneladas de alimentos a nível nacional, o que mostra um acréscimo significativo. E bem vindo, já que segundo Isabel Jonet, os pedidos de auxílio alimentar têm aumentado.
No armazém de Alcântara, a alegria vê-se nos rostos das centenas de voluntários que ali se encontram a despejar sacos e a separar os produtos - massas para um lado, arroz para outro, cereais para outro ainda, e assim por diante, com as bolachas e as latas de salsichas ou ervilhas. Há voluntários a encher caixas de cartão que outros já dobraram, a pesar carregamentos e a transportâ-los para o outro armazém, no lado oposto do pátio. Esse está meio vazio. Ou meio cheio. "Logo à noite [ontem] estará completamente cheio", diz Isabel Jonet.
Ao microfone, o animador de rádio, aluno da Universidade Autónoma, anuncia entre duas canções as toneladas já recolhidas até ao momento. As cerca de duas centenas de pessoas que estão ali a trabalhar largam sacos e pacotes e irrompem em palmas. Sentem-se felizes por participar naquele acontecimento.
Alguns já o fazem há vários anos, já têm ali amigos, voltam sempre. É o caso de Pedro Rocha Brito, 23 anos, que é agora um dos responsáveis pela recepção dos alimentos, no armazém de Alcântara, mas que participou pela primeira vez nestas campanhas quando tinha 14 anos, como voluntário num supermercado. Nunca mais parou. "Mais tarde propuseram-me coordenar uma equipa de supermercado, depois aqui no armazém", conta este jovem, que acabou por envolver-se também na campanha Ajuda Vale do Banco Alimentar. Foi ele, na altura como finalista de marketing, que ajudou a lançar esta outra acção, há três anos. Com a Ajuda Vale, que decorre até domingo, as pessoas podem continuar nos próximos dias a oferecer produtos ao Banco Alimentar, comprando cupões-produto, que estão disponíveis nos supermercados aderentes. No final, será tudo para alimentar quem mais precisa: actualmente são 232 mil pessoas - mais 22 mil do que há um ano - que, de outra forma, passariam fome.