Rita Marques Guedes, in Diário Económico
É tempo de colocar definitivamente de parte os persistentes entraves e as inadequadas desconfianças do Estado sobre a iniciativa privada.
Exemplo. Acredito nas emoções e gosto de assumir o sonho como um dos comandos da vida. O Banco Alimentar e a sua mais recente acção no passado fim-de-semana representa muito. Representa, desde logo, duas coisas essenciais: emoção e sonho. É absolutamente tocante ver a actividade daquela mole imensa de voluntários de todas as idades e condição a separar produtos e embalagens, num exercício sem parar e em pulsação carregada de uma especial energia. E foi através de um sonho, certamente, que tudo começou. Um sonho, felizmente, tornado realidade pela persistência e pelo empenho de muitas almas cheias de determinação. A acção do Banco Alimentar, e de tantas outras organizações, é a prova da força da sociedade civil e da sua capaz complementaridade na prestação a favor dos mais desfavorecidos. É um exemplo para o Estado e é um ensinamento para todos quantos persistem na ideia de que só mais Estado é garante de melhor serviço. Não é assim, cada vez menos é assim. É tempo de se repensarem as funções do Estado. E de abrir à sociedade civil a possibilidade de prestar as suas mais-valias num ambiente de verdadeiras possibilidades e de úteis conjugações entre Público e Privado, colocando definitivamente de parte os persistentes entraves e as inadequadas desconfianças do Estado sobre a iniciativa privada.
Pobreza. Segundo o presidente da AMI, em 2007, duplicaram os pedidos de ajuda das famílias. E estudos recentes, apontam para que as famílias portuguesas, por via do aumento do custo dos alimentos, venham a gastar, em média, cerca de 620 euros a mais por ano nas compras de supermercado. A pobreza já não está só nos mais pobres. Vemos a chamada pobreza envergonhada, situada em boa parte da classe média, aparecer à luz do dia impulsionada pela tomada dos seus rendimentos mensais por via do aumento das taxas de juros e do aumento dos preços dos alimentos. Não será a pobreza um tema certamente agradável para nenhum governo em funções. Mas entre o incómodo da situação e a realidade concreta dos factos a diferença está entre quem assume os problemas e os procura enfrentar e aqueles que os escamoteiam para nos iludir de que tudo vai bem. A verdade é que, conforme se vão agravando os sinais, melhor vamos verificando quão fina é a camada de pó-de-arroz que José Sócrates tem utilizado para maquilhar a sua actuação.
Escolha. Apenas um registo: nas eleições directas para a liderança do PSD cada vez mais a escolha está entre a esperança e o medo. Voltarei ao tema.


