Sandra Ferreira, in Jornal Público
A conclusão vem retratada num novo estudo sobre pobreza e exclusão social do investigador Alfredo Bruto da Costa, com publicação prevista para o próximo mês de Junho: metade das famílias portuguesas foram pobre s entre 1995 e 2000, com a taxa anual de pobreza a rondar os 20 por cento da população nacional.
O novo trabalho do investigador e presidente do Conselho Económico e Social (CES) retrata a pobreza em Portugal entre 1995 e 2000, período em que, pela primeira vez, foram acompanhadas sempre as mesmas famílias. O trabalho revela que praticamente metade das famílias questionadas viveu, pelo menos, um ano de pobreza nesse período. Para sermos mais precisos, que 46 por cento das famílias portuguesas sofreram "privações devido à falta de recursos", revelou Bruto da Costa numa conferência, ontem, na Universidade Católica de Viseu.
Para o investigador, o fenómeno da pobreza não pode ser visto sob o estrito ângulo do desemprego. Reportando-se a estatísticas mais recentes, de 2005 e 2006, Bruto da Costa realça que apenas dez por cento dos pobres não têm emprego, contra 35 por cento que estão empregados. "Vê-se logo que os políticos não sabem nada de pobreza e estudam muito pouco."
Para o presidente do CES, a pobreza é um problema suficientemente complexo para merecer um estudo científico "sério". Porém, dado tratar-se de uma questão com uma dimensão humana relevante, "todos se sentem capazes de falar sobre o assunto", acrescentou, referindo-se depois a um inquérito europeu realizado em 2002, no qual se verificou que um terço dos portugueses atribuíam a pobreza à preguiça. Se assim fosse, "Portugal teria dois milhões de preguiçosos e estaríamos perante um problema de saúde pública", ironizou o investigador.
O mesmo inquérito indicou também que dois terços dos portugueses não viam necessidade de mudanças sociais. Por esta razão, Bruto da Costa considera que é preciso inverter a percepção da sociedade em relação a este problema e apostar em novas políticas sociais. É pela via do ensino e da qualificação profissional que será possível diminuir o número de pobres, considerou, facultando aos mais desfavorecidos um acesso efectivo à aprendizagem.