António Soares, Hugo Silva, Nuno Silva e Reis Pinto, in Jornal de Notícias
Zaragata entre dois moradores causou um ferido, que foi assistido sob o olhar de dezenas de pessoas
As autoridades temem uma escalada de violência na sequência dos incidentes ocorridos anteontem no bairro do Cerco do Porto de que resultaram dois feridos a tiro. Os confrontos, que envolveram elementos da comunidade cigana residente no bairro e indivíduos ligados à segurança de estabelecimentos nocturnos, fizeram ainda levantar dúvidas sobre a legitimidade de alguns aspectos da intervenção da PSP, nomeadamente quanto a buscas realizadas em residências. Ontem, a PSP voltou em força ao bairro, supostamente como reacção a represálias exercidas sobre um dos seus elementos. Oficialmente (ver caixa) tratou-se de uma operação de rotina, sem qualquer ligação aos incidentes do dia anterior.
Ontem à tarde, durante mais de três horas, todas as entradas do bairro estiveram controladas pela PSP. Quase nenhum automóvel passava sem que o condutor tivesse que mostrar os documentos. "Uma operação STOP rotineira", afiança a PSP. Coincidências. Uma coisa é certa de facto, o aparato policial não interferiu com as rotinas de um dos bairros mais problemáticos do Porto. Muita gente na rua. Muita gente a apreciar o cerco policial, denotando indiferença pelo aparato.
Aliás, nem a presença de dezenas de polícias, incluindo do Corpo de Intervenção, evitou uma zaragata entre dois moradores. O agredido foi assistido pelo INEM, sob o olhar atento de uma multidão, e levado para o hospital. O agressor foi para a esquadra. "Os desentendimentos entre eles já são normais", disse, ao JN, outro residente do Cerco.
A operação também deu que contar. Um condutor tentou fugir. Galgou passeios, esteve em vias de ter alguns acidentes e acabou por sair do carro a correr, abandonando uma mulher que seguia ao seu lado. O fugitivo acabaria por render-se. Não tinha carta. Foi detido. Houve mais duas detenções pelo mesmo motivo. Um dos detidos tinha um mandado para cumprir dois anos de prisão.
Demonstração de força
Fontes policiais disseram ao JN, no entanto, que a operação foi mais uma demonstração de força perante os incidentes ocorridos anteontem. Em causa poderá ter estado também uma reacção a um incidente envolvendo um dos seus elementos mais activos no dia anterior, que terá sido ontem alvo de uma tentativa de retaliação por parte de elementos da comunidade cigana. Estes terão considerado a intervenção do referido elemento abusiva.
Um segurança da noite, conhecido pela alcunha de "Pitbull", e a sua namorada foram atingidos a tiro no bairro, supostamente na sequência de um desentendimento ocorrido na noite anterior na discoteca onde trabalhava. A Polícia terá entrado em casa do alegado agressor pouco depois, sob forte reacção dos moradores.
As autoridades temem uma escalada de violência, envolvendo seguranças, a comunidade cigana e elementos da própria Polícia.