24.6.08

Abandono mantém futuro em suspenso

Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias

Radiografia à cidade mostra cenários de degradação para os quais tarda uma solução


Há 30 anos, a capital começou a perder população. Um tiro de partida para a letargia, à qual a cidade chegou e da qual teima em não sair. As intermináveis obras na Praça do Comércio espelham apenas parte do abandono em que se encontra.

Em números redondos, são já mais de 280 mil os habitantes que Lisboa perdeu, desde 1980. Por outro lado, ganhou em muitas outras áreas, mas no pior sentido.

Aumentou o estacionamento abusivo, com a capital a receber diariamente 400 mil automobilistas, sendo a Avenida da Liberdade uma das mais atingidas pelo tráfego, colocando-se entre as vias europeias com maior índice de poluição. Paralelamente, as estradas são cada vez mais o espelho da falta de investimento na rede viária.

O fenómeno da pobreza cresce, acompanhando o envelhecimento da população nas freguesias históricas. Castelo e Marvila foram apontadas pelo "Observatório da Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa" como dos principais locais onde aquele fenómeno mais se faz sentir.

As lojas do comércio tradicional sucumbem perante a pujança das grandes superfícies comerciais, que crescem nas novas zonas residenciais. Já a degradação do edificado também não pára de crescer, com os proprietários a não realizarem as obras necessárias que lhes competem. Porém, a Câmara Municipal - como uma das principais proprietárias de edifícios - também não está isenta de responsabilidades. E se em todo o país há mais de 500 mil casa devolutas, só em Lisboa são mais de 200 mil , degradadas e fora do mercado de habitação.

A empresa municipal que gere os 67 bairros sociais, a Gebalis, não se livra das queixas de grande parte das mais de 85 mil pessoas, que ali vivem. Aquelas áreas necessitam de uma requalificação urgente. Alguns bairros, cujos os projectos originais nunca foram concluídos, ainda aguardam a chegada dos equipamentos sociais prometidos.

Uma paleta de problemas perante a qual não é de escamotear o desequilibro económico que atravessam as contas da capital e que a colocaram como das mais mal entidades pagadoras no país.

Projectos, como a sociedade Frente Tejo, prometem mudar esta imagem de degradação que se abateu sobre a cidade, mas nem aquele plano se livrou de perder esta semana o seu rosto - José Miguel Júdice.