Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Congresso feminista evoca até dia 28 discriminaçõesque subsistem na escola, no trabalho e na sexualidade
Se existisse igualdade de direitos entre homens e mulheres não faria sentido ressuscitar 80 anos depois o congresso feminista. Falta ainda percorrer um longo caminho dizem as mulheres ouvidas pelo JN, com excepção de uma ex-ministra...
Celeste Cardona, ex-dirigente do CDS-PP, antiga ministra da Justiça e administradora da Caixa Geral de Depósitos, foi a única inquirida a garantir que, nos tempos de hoje, não faz sentido a falar de feminismo.
"Não, como nunca fez. As mulheres são diferentes dos homens, e é essa diversidade que os torna iguais (porque são ambos comptetentes e capazes) no alcance de objectivos que, sendo os mesmos, são alcançados de forma distinta", justifica a antiga deputada.
Uma voz dissidente entre uma dúzia de escritoras, artistas, deputadas e historiadoras ouvidas pelo JN, na véspera do início do congresso feminista que durará até sábado, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
"Infelizmente é um movimento necessário porque como todos sabemos (e todos mesmo!) as mulheres estão muito longe de ter a chamada igualdade" sublinha, com firmeza, a actriz Ana Bola.
Demitida no final de Janeiro, a ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima refere que, hoje em dia, "faz novos sentidos" falar não em um, mas em vários feminismos "porque, as diferenças na situação das mulheres no Norte da Europa, na África subsariana ou nos países muçulmanos são ainda mais abissais do que há 30 anos".
Quanto à Europa meridional, a ex-governante realça estarem as mulheres arredadas dos fora de decisão: na economia, na política e nas grandes empresas.
"Ainda ninguém demonstrou que o machismo português desapareceu, que as mulheres não são espancadas, que o salário igual é uma realidade e que têm acesso à política como os homens", rebate Maria Teresa Horta, inquirindo se perguntam aos negros se ainda faz sentido lutar pelo anti-racismo.
"Por cada dólar que um homem ganha, a mulher recebe 70 cêntimos, elas são mais na Banca, nos hospitais e jornais, mas eles são os directores", aponta a deputada do CDS-PP, Teresa Caeiro para quem feminismo "é continuar a denunciar as desigualdades de direitos de género".
"As mulheres vivem num sufoco e cansaço permanentes porque têm de carregar muitos chapéus", alega. No quadrante oposto, Cecília Honório, do BE, elege também "o sobretrabalho" como o fardo que torna a vida das portuguesas "n uma encruzilhada asfiaxiante".
A historidora Irene Pimentel frisa que, apesar das leis, "as corticeiras ainda ganham menos que os homens" enquanto a eurodeputada do PCP, Ilda Figueiredo, afirma que no trabalho, "as mulheres são as mais exploradas e as mais prejudicadas quando os direitos laborais são atacados".
Se Inês Pedrosa responde com: "Basta olhar para o mundo", Elisa Ferreira, eurodeputada do PS, refere que "ainda há muitas coisas a corrigir", mas cuja intervenção é difícil porque ocorrem "num plano subtil, dentro das paredes das casas, como os maus tratos".
"Há 100 anos nem ler saberíamos e também havia quem disesse que o feminismo não fazia sentido", salienta Fina d'Armada.