Natália Faria, in Jornal Público
Portugal continua sem ter respostas suficientes para combater o problema do alcoolismo, denunciou o psiquiatra Daniel Sampaio. Numa altura em que se assinala um ano desde a integração dos centros regionais de alcoologia no Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), o psiquiatra sustenta que a lacuna é tanto mais grave quanto se sabe que, à boleia da dependência alcoólica que afecta meio milhão de portugueses, surgem problemas como a violência doméstica.
Não houve qualquer melhoria na resposta ao alcoolismo e, portanto, a questão que devemos colocar é o que é que se está a passar em Portugal nesta matéria, declarou, criticando a forma como decorreu a integração dos centros de alcoologia no IDT.
A ideia de integrar os centros no IDT era correctíssima, mas devia ter idono sentido de dar mais condições aos alcoologistas e de aproveitar os técnicos do IDT para potenciar o tratamento do alcoolismo, preconizou, explicando que tal integração se justificava porque o número de consultas no IDT baixou muito, à medida que a dependência da heroína foi dando lugar a outro tipo de drogas.
Também para Carlos Brito, presidente do Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda, a integração dos centros regionais de alcoologia no IDT não trouxe benefícios para os utentes. Os alcoólicos em recuperação sentem-se estigmatizados quando se vêem associados à droga, aponta, dizendo que, na Região Centro, a solução foi retirar a referência ao Instituto da Droga e da Toxicodependência das vinhetas médicas. De outro modo, os doentes iam andar quilómetros para aviar uma receita longe do sítio onde moram.
Para o ex-director do Centro de Alcoologia do Sul, Domingos Neto, confirmaram-se os piores receios. O IDT deixou de emitir números sobre doentes assistidos e, portanto, não sei dizer se aumentou ou diminuiu. Mas, pelos menos nos antigos centros de alcoologia, sei que diminuiu drasticamente e, que saiba, não houve progressos noutros sectores para compensar essa diminuição, declarou.
Sentimos algumas limitações decorrentes da dificuldade em recrutar novos profissionais, mas já estamos em condições de as ultrapassar, mercê da aprovação do novo mapa de pessoal, reagiu o presidente do IDT, João Goulão. De acordo com este responsável, a actividade dos centros de alcoologia continua a ser desenvolvida pelas novas unidades de alcoologia, mas agora enriquecida por uma estrutura mais alargada. De resto, os técnicos do IDT têm vindo a receber formação na área da alcoologia, num processo que ficará concluído até ao final do ano. Aliás, concluiu Goulão, no dia 25 de Junho, haverá um fórum para discussão dos problemas relacionados com o álcool, que irá lançar as bases para o plano estratégico na área da alcoologia para o período entre 2009 e 2012.