Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Indicadores mostram nova degradação da situação económica. Consumo das famílias em Maio voltou a diminuir
Sete meses consecutivos de queda colocaram, em Maio, o ritmo da actividade económica em Portugal ao nível mais baixo desde 2003, período em que o país se encontrava em recessão.
De acordo com os dados ontem publicados pelo Banco de Portugal, o indicador coincidente da actividade - que procura medir, com os indicadores sectoriais disponíveis a tendência de crescimento da economia portuguesa - registou em Maio uma variação face a igual período do ano anterior de 0,4 por cento, uma quebra face aos 0,8 por cento de Abril.
Depois de atingir em Agosto do ano passado um pico de 2,4 por cento, a economia portuguesa, influenciada pela crise financeira que então chegou aos mercados internacionais, começou a fraquejar. E desde Novembro tem registado, de forma consecutiva e acentuada, uma redução da variação homóloga do indicador coincidente da actividade.
De tal forma que já ultrapassou o mínimo verificado em Dezembro de 2005, sendo agora necessário recuar até Novembro de 2003 para encontrar um valor mais baixo. O ano de 2003 foi de recessão profunda em Portugal, com o PIB a registar uma variação negativa de 0,8 por cento.
Crise internacional
O cenário que se verifica na economia mundial desde que, em Julho de 2007, deflagrou a denominada crise do subprime tem desempenhado um papel decisivo no abrandamento que agora se verifica em Portugal.
As taxas de juro praticadas no mercado de crédito internacional subiram rapidamente, a procura externa diminuiu, nomeadamente em Espanha, e o preço do petróleo e a cotação do euro continuaram em alta. O resultado foi uma perda acentuada do poder de compra das famílias, uma menor possibilidade de recurso ao crédito para financiar o consumo e o investimento e uma redução das expectativas de crescimento para a generalidade das empresas exportadoras.
Os números ontem revelados pelo Banco de Portugal confirmam que estas dificuldades continuaram a produzir efeitos no passado mês de Maio. O indicador coincidente do consumo privado voltou a cair, passando de 0,8 por cento em Abril para 0,5 por cento em Maio. Ao nível do investimento, é notória a quebra registada em indicadores como a venda de veículos automóveis comerciais ou de cimento. Em relação às exportações, não há ainda dados disponíveis para Maio, depois da recuperação conseguida em Abril, mas os responsáveis das empresas exportadoras estão já a anunciar uma quebra nas encomendas provenientes do exterior.
Previsões revistas em baixa
O mesmo tipo de tendência, embora de forma mais moderada, foi também ontem revelada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) através dos seus indicadores de conjuntura.
O indicador de clima - que agrega as expectativas reveladas pelos empresários do comércio a retalho, indústria, construção e serviços - voltou a cair em Maio, passando de uma variação de um para 0,9 por cento e eliminando os ganhos que tinham sido conseguidos em Abril. O indicador de actividade ainda só está disponível para Abril, período em que, de acordo com o INE, se verificou uma melhoria, que pode ter sido influenciada pelo facto de esse mês, em relação ao ano passado, ter contado em 2008 com mais dias úteis.
Até agora, os dados efectivos de crescimento da economia portuguesa - dados pelo valor do PIB calculado pelo INE - são apenas referentes ao primeiro trimestre deste ano e revelam, efectivamente, um abrandamento acentuado da economia durante esse período. O PIB registou uma redução de 0,2 por cento face ao quarto trimestre do ano passado e um crescimento de 0,9 por cento em relação ao período homólogo. O abrandamento deveu-se, principalmente à quebra do investimento em construção, mas também se registaram resultados mais negativos ao nível das exportações e do consumo de bens duradouros por parte de particulares.
Por isso, e tendo em conta que a nível internacional se espera uma segunda metade do ano com a economia a abrandar, os preços a subirem e os bancos centrais a serem forçados a aplicar uma política monetária restritiva, é natural que as previsões de crescimento que são realizadas para a economia portuguesa em 2008 estejam a ser revistas em baixa. O próprio Governo passou, no mês passado, de uma estimativa de variação do PIB de 2,2 para 1,5 por cento, aproximando-se do Fundo Monetário Internacional que até agora a organização mais pessimista com uma projecção para a taxa de crescimento de 1,3 por cento. No início de Julho, será a vez do Banco de Portugal efectuar a sua própria revisão de perspectivas.
A conjuntura económica internacional vai piorar, admitiu ontem o ministro da Economia, Manuel Pinho, sublinhando que a situação actual é mais grave que a vivida durante os últimos três anos. "Em 2002 tínhamos a taxa de juro Euribor a seis meses nos 2,2 por cento, que passou para os cinco por cento. O preço do barril de petróleo era de 20 dólares e está agora nos 135 e as matérias--primas continuam a aumentar. Este tem sido o cenário dos últimos três anos". "Infelizmente, o que nos espera agora é ainda pior", acrescentou.