in Jornal de Notícias
Os imigrantes ilegais que sejam apanhados em países da União Europeia podem passar até 18 meses presos em centros de detenção até serem expulsos.
A "Directiva de Retorno" foi aprovada pelo Parlamento Europeu, envolta em polémica.
O presidente do Equador chamou-lhe a "directiva da vergonha". A Plataforma das Estruturas Representativas das Comunidades Imigrantes em Portugal considerou-a "inaceitável". A Federação Internacional dos Direitos do Homem diz que este é um golpe na universalidade dos direitos humanos. A ténue esperança de que a "Directiva de Retorno" não passasse no Parlamento Europeu esfumou-se ontem, com 367 votos a favor, 206 contra e 109 abstenções, no que foi considerada uma vitória de conservadores, liberais e eurocépticos contra os socialistas divididos entre o não e a abstenção. As delegações alemãs e espanholas eram mais favoráveis a um compromisso, ao passo que os britânicos abstiveram-se na sua maioria.
As bancadas da esquerda, incluindo os grupos socialista e comunista, haviam apresentado várias emendas ao documento e bastava que uma fosse aprovada pela maioria do hemiciclo para todo o processo negocial ter de recomeçar, mas os votos do Partido Popular Europeu (PPE), a principal força política da assembleia, e dos Liberais determinaram a adopção do texto tal como foi apresentado pelo Conselho.
As delegações do PSD e do CDS-PP, que integram o grupo PPE, votaram favoravelmente a lei, enquanto os deputados do PS - a maior delegação portuguesa ao Parlamento Europeu -, do PCP e o deputado Miguel Portas, do BE, votaram contra.
A lei fixa normas rígidas para o repatriamento de ilegais apanhados em países da União Europeia e deverá ser transposta dentro de dois anos. Em suma, os sem-papéis podem passar até 18 meses em centros de detenção enquanto se processa a sua expulsão (em Portugal, actualmente, o período é de 60 dias); podem ser detidos com uma mera ordem administrativa e uma vez expulsos não podem regressar à UE por um período de cinco anos; os ilegais com menos de 18 anos também podem ser repatriados, mesmo que não estejam acompanhados.
A aprovação da lei é resultado de um compromisso inédito entre os 27 estados-membros e o Parlamento Europeu, no que o conservador alemão Manfred Weber, que esteve nas negociações, considerou ser a "vitória da razão".
Já Louise Arbour, do Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos do Homem, criticou o texto, apelando a que sejam dadas as mesmas garantias dos refugiados políticos àqueles que fogem da miséria e da fome.
A directiva "ultraja" as normas de protecção dos Direitos do Homem no Mundo, lê-se, por outro lado, num abaixo-assinado onde constam nomes como o do Prémio Nobel italiano Dario Fo, dos realizadores Luc e Jean-Pierre Dardenne, Pedro Almodóvar, Philippe Diaz, da actriz Penélope Cruz ou dos cantores Manu Chao e Toure Kunda.
Para a Amnistia Internacional, a aprovação da Directiva "dá um mau exemplo a outras regiões do Mundo". A organização apela, por isso, aos estados-membros onde as condições são mais favoráveis para os ilegais a não transporem a directiva (Espanha e Portugal já anunciaram que não o fariam).