Helena Tecedeiro, in Diário de Notícias
Relatório. Países do G8 teriam de doar mais 26 mil milhões de euros até 2011
Painel criado em 2007 pelo G8 alerta para não cumprimento das metas
Os países ricos não estão a cumprir as metas para África e "dificilmente conseguirão" duplicar a ajuda àquele continente até 2010, como foi acordado na reunião do G8 em 2005. O alerta foi lançado ontem em Londres por Kofi Annan, o ex-secretário-geral da ONU que preside ao Painel para o Progresso de África. Criado em 2007 para monitorizar os progressos realizados em África, este painel revelou agora o seu primeiro relatório anual em que afirma ainda que, "se nada for feito para inverter a subida dos preços dos alimentos, irá registar-se um forte aumento na fome, subnutrição e mortalidade infantil".
Kofi Annan, que lidera um grupo de 11 personalidades oriundas de meios diferentes como a política, a música, a economia e os direitos humanos, sublinhou que a crise alimentar "ameaça comprometer anos, ou mesmo décadas, de progresso económico em África. "Com cem milhões de pessoas à beira da pobreza extrema, o custo da alimentação não será medido em termos de preço do trigo ou do arroz, mas no número crescente de bebés e crianças que vão morrer em África", declarou o ganês que chefiou as Nações Unidas entre 1997 e 2006.
O estudo, que contou com os contributos do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, do músico e activista Bob Geldof ou do ex-presidente do Fundo Monetário Internacional Michel Camdessus, apresenta algumas propostas para aliviar a tensão. A primeira passa pelo aumento da assistência alimenta. Mas a médio prazo, é necessário investir em fertilizantes, na gestão da água e culturas e na construção de estradas para os agricultores poderem transportar os seus produtos.
O painel chama ainda a atenção para as metas fixadas pelo G8 na cimeira escocesa de Gleneagles em 2005 e garante que os oito países mais industrializados do mundo teriam de doar mais 26 mil milhões de euros para respeitar os seus compromissos de duplicar a ajuda a África até 2011. "A comunidade internacional tem interesse em que África se torne um continente seguro, estável e próspero", disse Annan.
O relatório saúda o investimento em África de países como a China, a Índia, a Malásia e os Emirados Árabes Unidos que já criaram "grandes oportunidades" para o desenvolvimento do continente.
Com a próxima cimeira do G8 marcada para os dias 7 a 9 de Julho em Toyako, no Norte do Japão, o painel deixa ainda a lista dos seis aspectos que necessitam de uma "atenção imediata: a crise alimentar, os níveis e qualidade de vida dos africanos, o comércio, o aquecimento global, desenvolvimento das infra-estruturas e boa governação.