in O Primeiro de Janeiro
Dos cerca de 174 mil desempregados do Norte, 20 mil são da Região do Tâmega. Esta é, aliás, a zona mais pobre da Europa. Baião é o concelho mais afectado, 80 por cento dos homens emigraram.Setenta por cento das mulheres estão desempregadas e as crianças só têm o sexto ano.
Dora Barros
O Tâmega é a região mais pobre da Europa, registando até Janeiro deste ano cerca de 20 mil desempregados. Dos oito concelhos que compõem esta NUT III – Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel – Baião é aquele onde a situação é ainda mais preocupante, uma vez que 80 por cento dos homens emigrou e as mulheres representam 70 por cento dos desempregados.
Amarante e Marco de Canaveses são dois concelhos que acompanham mais de perto os números de Baião.
A Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal apresentou ontem um estudo sobre o impacto do desemprego nesta região intitulado: «Nas margens do Tâmega – mercado de trabalho, pobreza e exclusão social: interacções e intervenções», que traça uma cenário negro daquela que é também considerada a região mais pobre do País, cuja taxa de escolaridade, no geral, ronda o sexto ano. “O acesso e frequência da escolaridade obrigatória parece estar genericamente resolvido, mas o mesmo não se passa com o prosseguimento de estudos para o secundário. Os valores da taxa de escolarização neste nível de ensino, com excepção de Amarante, estão bastante aquém das médias verificadas na Região Norte e no território nacional”, pode ler-se no estudo, que detectou ainda um aumento significativo do consumo de álcool e drogas e do endividamento das famílias, dando origem aos chamados “novos pobres”.
Em conversa com o JANEIRO, o padre Agostinho Jardim Moreira defendeu que só com a concretização de “uma regionalização” é que os vários problemas sócio-económicos dos oito concelhos que compõem a NUT III do Tâmega seriam resolvidos. O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal entende que os políticos têm de dar vez e voz à sociedade civil de forma a que os agentes regionais entendam, intervenham e mudem a sua realidade. “Só com uma regionalização – não sei qual delas – é que conseguimos inverter esta tendência, uma vez que aí existirá uma responsabilização mais directa pela situação que se vive”, afirmou, criticando a adopção de medidas “meramente assistenciais como o Rendimento Social de Inserção”. “Temos de deixar de gerir a pobreza através destes apoios e começar a incentivar a mudança, a apostar na qualificação das pessoas para que sejam elas próprias as geradoras da mudança”, explicou.
Jardim Moreira espera que as diferentes autarquias assumam este estudo como o ponto de partida para a qualificação do território e das pessoas e que aproveitem as verbas disponibilizadas pelo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) para dar o salto qualitativo.
No entanto, o presidente da rede defendeu que a implementação das medidas deve ser monitorizada por entidades externas, de modo a acompanhar todo o processo e a orientar as linhas de acção.
Mercado de trabalho
Salários baixos
A NUT III é composta por cerca de 470 mil habitantes, sendo que a maior parte da população activa trabalha no sector secundário. No entanto, o grupo dos empregados que auferem baixos salários é muito significativo, assim como o emprego precário, associado, em muitos casos, a situações de rotatividade entre emprego/desemprego. Em média os trabalhadores da Região Norte chegam a ganhar menos cerca de 350 euros por mês do que o resto do País. A participação nos circuitos da economia informal – através da realização de biscates, trabalho em casa e trabalho não declarado – apresenta uma também uma incidência transversal em todos os concelhos, embora com tendência de regressão dada a retracção da actividade industrial.