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Estudo comprova que muitos indivíduos se recusam ou estão desmotivados para (re)entrar no mercado de trabalho
A falta de hábitos de trabalho e de competências sociais caracterizam a pobreza em Baião, concelho onde quase um em cada dez habitantes vive com o Rendimento Social de Inserção (RSI), refere a Lusa.
De acordo com o estudo divulgado pela Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal (REAPN), que analisou os impactos do emprego/desemprego em oito concelhos da região do Tâmega, em Baião, 9,5 por cento da população beneficia do RSI e o concelho regista um aumento forte no que respeita ao desemprego feminino.
Famílias dependem do subsídio
Em Janeiro deste ano, 79 por cento dos desempregados do concelho eram mulheres. Cristina, de 35 anos e mãe de quatro filhos, é exemplo disso. A viver com os 240 euros do RSI e pouco mais de 300 euros que o marido leva para casa, fruto do seu trabalho irregular na construção civil, negócio predominante do concelho.
«Tenho uma doença que não me permite trabalhar com pó», afirmou, justificando assim o facto de nunca ter tido um emprego.
Cristina afirmou desejar ter um emprego, no entanto, adiantou que «a cabeça anda com consumições» que a impedem de trabalhar, provando as indicações do estudo da REAPN, que refere ser «possível delinear um conjunto de indivíduos que se recusam ou estão desmotivados para a (re)entrada no mercado de trabalho».
Há quem se acomode ao subsídio
Para José Marques, cunhado de Cristina, em Baião até há emprego para os homens, «mas desde que tudo começou a encarecer, há três anos, ficou insuportável» suportar as despesas e o dinheiro no fim do mês não chega.
José emigrou para Luanda e agora consegue arrecadar duas vezes mais do que aquilo que ganhava em Baião, podendo assim ajudar os dois filhos nos estudos.
José Marques criticou a forma como as pessoas vivem dependente do RSI, afirmando que «com esses subsídios a população não faz pela vida». O seu filho, Cristiano, de 18 anos, terminou agora o 11º ano de escolaridade, e afirmou à Lusa querer ser polícia, ingressando na escola em Lisboa.
Em Baião são 102 as familias inscritas no subsídio
Uma técnica da Acção Social da Câmara de Baião adiantou que «o ciclo de pobreza, que é quase geracional, não se consegue romper», porque a população «tem ausência de hábitos de trabalho, de competências sociais e até parentais».
Adelaide é mãe solteira de sete filhos, entregues a famílias de acolhimento, não trabalha e não consegue organizar/limpar a sua pequena casa para que a autarquia possa projectar o seu aumento, para que tenha uma casa-de-banho, no âmbito do Fundo de Solidariedade Social.
A Câmara de Baião conta com 102 agregados familiares inscritos neste fundo, que tem por objectivo contribuir para a erradicação ou atenuação da pobreza e da exclusão social e a promoção do desenvolvimento social do concelho.
Os idosos também são um problema
Acrescentou que os idosos com pensões baixas são outro grande problema em Baião, sendo que muitos vivem ainda «com problemas básicos», como ausência de saneamento, electricidade e água.
Na freguesia de Ovil, Raul, de 76 anos, vive numa casa com a sua mulher e dois filhos, com apenas 350 euros que recebe de pensão.
A sua irmã Maria Arminda, com pouco mais de 50 anos, vive numa pequena casa ao lado da sua que não tem água, nem casa-de-banho, recebendo por mês uma pensão de sobrevivência e o RSI, num total de 181 euros.
O município de Baião localiza-se no limite interior leste do distrito do Porto, sendo constituído por 20 freguesias, num total de cerca de 17.400 quilómetros quadrados.