João Ramos de Almeida, in Jornal Público
A taxa de desemprego em Portugal, segundo a organização, deverá ficar acima da média da zona euro
A economia portuguesa vai abrandar ligeiramente em 2008 e 2009 e a taxa de desemprego manter-se-á ao nível actual, a rondar oito por cento, prevê a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) no seu relatório com as Previsões Económicas Mundiais ontem divulgado.
A estimativa representa uma visão mais pessimista face ao anterior relatório de Dezembro de 2007. Nessa altura, a estimativa era para um crescimento económico em 2008 de dois por cento, reforçado em 2009 com uma taxa de 2,2 por cento. A previsão mais recente aponta para que a economia cresça 1,6 por cento em 2008 e 1,8 por cento em 2009.
Se a OCDE acaba por ser um pouco mais optimista do que o Governo português quanto ao crescimento económico, o mesmo não se passa quanto à evolução do desemprego.
A 15 de Maio passado, na divulgação das Grandes Opções do Plano para 2009, o Governo baixou a sua expectativa de crescimento económico de 2,2 por cento para 1,5 por cento. E fê-lo, seguindo as previsões de outras instituições - Banco de Portugal (2 por cento), Fundo Monetário Internacional (1,3) e Comissão Europeia (1,7). Mas manteve na altura a previsão de uma melhoria da taxa de desemprego - de 7,9 por cento em 2008 para 7,6 por cento em 2009. O relatório da OCDE não se mostra tão optimista. A taxa de desemprego deverá situar-se em 8 por cento em 2008 e em 7,9 por cento em 2009, ou seja, representa uma interrupção da descida esperada mesmo pela OCDE em Dezembro passado. O desemprego em Portugal ficará mesmo acima da média da zona euro (7,2 em 2008 e 7,4 por cento em 2009).
Este cenário é explicado, sobretudo, pela degradação da economia internacional e pelo consequente aperto no crédito ao consumo e ao investimento.
Estrangeiro compra menos
A economia da zona euro manter-se-á, assim, abaixo do seu potencial de crescimento e apenas melhorará muito lentamente ao longo de 2009, à medida que se forem dissipando os efeitos da crise financeira e melhorar o ambiente económico internacional. Apesar disso, a OCDE espera um abrandamento da actividade da zona euro nos próximos anos. Em 2008, a taxa de deverá ser 1,7 por cento e em 2008 e de 1,4 por cento em 2009.
As exportações portuguesas reflectirão esta evolução. As expectativas de Dezembro de 2007 para um crescimento de 5,6 por cento nas exportações portuguesas reduziram-se para 4 por cento no relatório ontem divulgado. E esta previsão deverá ser seguida com cuidado, dada a evolução mais pessimista para as economias alemã e espanhola que representam, conjuntamente, quase 40 por cento das exportações nacionais.
O consumo privado em Portugal, segundo o relatório da OCDE, deverá ser afectado pelo aperto do crédito, mas, nas previsões, mantém um crescimento de 1,4 por cento para 2008. O investimento deverá abrandar, mas deverá ser compensado por um aumento dos gastos públicos.
A OCDE sublinha os esforços do Governo português na redução do défice orçamental de 3,9 por cento em 2006 para 2,2 por cento em 2008, explicando-a pela receita dos impostos sobre o rendimento, pela melhoria da eficácia da administração fiscal, crescimento económico e pela contenção nas admissões de pessoal.
Para 2008, o relatório ontem divulgado espera melhores resultados nas contas públicas do que já previa no final de 2007). E isso apesar de criticar a descida do IVA como contribuindo para a redução do ritmo de consolidação orçamental que se prolongará pelos próximos dois anos. O défice orçamental esperado para 2009 é de 2 por cento do PIB, ou seja, menos meio ponto percentual do que o esperado no final de 2007 pela OCDE.