19.6.08

Concelhos do Tâmega com índices alarmantes de desemprego

Helena Norte, in Jornal de Notícias

Ter emprego não é um seguro contra a pobreza. Nos concelhos do Tâmega não é só o desemprego que preocupa.

Os baixos salários e aprecaridade do emprego ditam percursos de exclusão e novas formas de pobreza.

O diagnóstico está feito. Faltam as medidas para mudar os tons negros que marcam o retrato da zona do Tâmega. O padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, confessa que saiu do encontro em que foi debatido o estudo sobre a realidade sócio-económica dos oito concelhos - Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira e Penafiel - mais preocupado do que estava.

"Ficou patente a dificuldade que os municípios têm em operacionalizar medidas concretas e em articular políticas", sublinhou.

Estavam convidados os presidentes dos oito municípios abrangidos pela pesquisa, mas só seis se fizeram representar (Felgueiras e Paredes faltaram) e apenas um pelo presidente (Baião) no encontro realizado, ontem, na Fundação António Cupertino de Miranda, Porto. "O nível de representação é significativo da importância que o poder político dá às questões da pobreza", considera o padre Jardim Moreira, acrescentando que "os pobres não dão votos, só dão prejuízo".

Do cruzamento de estatísticas e índices diversos, a Rede Anti-Pobreza concluiu que a zona do Tâmega é zona mais pobre da região económica e socialmente mais deprimida do país (Norte). E a pobreza tanto atinge quem está no desemprego - mais de 20 mil entre os 470 mil habitantes dos oito concelhos não têm trabalho - como quem tem colocação, mas não ganha o suficiente para subsistir sem dívidas e dificuldades. A existência de "novos pobres" é, aliás, uma das conclusões que ressalta deste estudo.

Nesta categoria estão, essencialmente, as famílias sobreendividadas e atingidas por fenómenos cada vez mais transversais, como a precariedade do trabalho, comportamentos de risco associados à toxicodependência e alcoolismo, idosos dependentes ou movimentos migratórios.

Os trabalhadores dos concelhos analisados chegam a ganhar menos 350 euros por mês do que a média nacional, apresentam baixos níveis de qualificação e elevadas taxas de desemprego jovem e de longa duração.

Em todos os concelhos, o desemprego escreve-se principalmente no feminino, mas é em Amarante, Baião e Marco de Canaveses que as mulheres representam mais de 70% dos inscritos nos centros de emprego. Um problema que não radica apenas na falta de oferta do mercado (muitas empresas fecharam sem que se gerassem alternativas), mas, também, em questões como a falta de creches para as crianças.