Manuel Esteves, in Diário de Notícias
Trabalho. Para uns, não há emprego; para outros, é o salário que é insuficiente. Entre estes, muitos vêem-se obrigados a encontrar um segundo trabalho que lhes permita complementar o salário recebido na actividade principal. Alguns fá-lo-ão por gosto. Certo, certo, é que são 6,5% da população empregada
Nunca houve tanta gente a ter um segundo trabalho
Muito se fala dos portugueses que não conseguem encontrar um emprego - o Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que sejam 427 mil. Mas outros há que têm, não um, mas dois (ou mais) trabalhos. Na maioria dos casos, não é por gosto, mas por necessidade, recorrendo a uma segunda actividade, exercida em tempo parcial, para compor o orçamento ao final do mês.
No primeiro trimestre deste ano eram 339,3 mil, mais 7,5% do que no período homólogo do ano anterior, situando-se a um nível historicamente elevado. Com efeito, na actual série do INE (desde 1998), nunca se registou um valor tão alto num primeiro semestre e, levando em conta os outros períodos do ano, só em 2003 (no segundo trimestre) é que se registou um número mais elevado (343,1 mil).
Os trabalhadores que exercem uma actividade secundária representavam, nos primeiros três meses deste ano, 6,5% da população empregada. No segundo trimestre do ano passado, esta percentagem chegou aos 6,6%, mas, em média, raramente atingiu aquela fasquia.
Este nível elevado de pessoas com um segundo emprego pode ser um sinal da crise e da dificuldade dos trabalhadores por conta de outrem se sustentarem com um só salário. Daí que sintam necessidade de recorrer a part-times, muitas vezes por conta própria. Segundo os dados do INE, em média, o emprego secundário leva-lhe cerca de 12 horas por semana, constituindo aquilo que popularmente se designa de biscate.
Por outro lado, este fenómeno demonstra também que há trabalho para fazer e que, se alguns não conseguem encontrar um emprego ajustado ao seu perfil e expectativas, outros têm dois e até mais para conseguir chegar ao fim do mês.
Metade na agricultura
Mas onde é que estes trabalhadores vão encontrar o segundo (terceiro ou quarto) emprego? Segundo o organismo oficial de estatísticas, quase metade (49,1%) tem a sua segunda actividade no sector agrícola, silvicultura e pesca. Outra fatia muito relevante complementa o seu orçamento mensal com uns biscates no sector dos serviços (45,5%) e só 5,4% o faz na indústria e construção.
Outra informação relevante que os dados do Instituto Nacional de Estatística revelam diz respeito à desagregação por sexo. Dos 339,3 mil trabalhadores com actividade secundária, 218,6 mil são homens, ou seja, 64%. As restantes 120,7 mil são mulheres.