19.6.08

Violência doméstica atingiu quatro em cada dez mulheres

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

Baixou só um pouco em 12 anos a violência exercida no meio familiar sobre as mulheres. Apenas houve maior coragem para as queixas. Quatro em cada dez mu-lheres em Portugal afirmaram-se vítimas ao longo de 2007.

Num ano em que o primeiro trimestre já foi marcado pelo assassínio de 17 mulheres às mãos dos seus maridos, companheiros ou namorados, o segundo inquérito nacional em 12 anos sobre violência doméstica indica que o fenómeno terá abrandado na sua expressão, mas que são mais as vezes em que a vítima recorre a autoridades policiais. Os homens, que também são parte queixosa neste tipo de situações, procuram mais essa solução, enquanto as mulheres ainda reagem na sua maioria através do silêncio.

Desceu cerca de 10%, comparando os anos de 1995 e 2007, o número de portugueses que afirmam ter sido vítimas de violência física, psicológica e sexual. O Inquérito Nacional sobre Violência de Género, iniciativa governamental que, no terreno, foi coordenada pelo sociólogo Manuel Lisboa, dá conta de que, no ano passado, 38,1% de entre as duas mil pessoas ouvidas tinham razões para se sentirem vitimizadas.

No total das vítimas, mais de metade apontaram a violência psicológica como a mais frequente. E esta forma cresceu alguns pontos desde o último inquérito, cifrando-se agora em 65,7% dos casos . Também a violência física aumentou (ocorre em 8,8% dos casos). Apenas a violência sexual ficou com expressão mais reduzida (em dez pontos percentuais, cifrando-se agora em 27,5%.)

Aspecto relevante deste estudo é a constatação de que a maioria das vítimas atribui as agressões a ciúme e sentimento de posse, seguidos da diferença de valores e ainda do conumo de álcool. A técnica do isolamento da vítima é comum à maioria dos casos.

O consumo de álcool, os malentendidos e as diferenças de valores são apontados nos casos de homens vitimizados. Segundo o estudo, 4,2 % dos inquiridos disseram ter sofrido violência física de mulheres e 21,8% referiram violência psicológica. A violência sexual é muito baixa, mais expressa por assédio. O local de vitimação masculina são sobretudo lugares públicos, a rua e local de trabalho, sendo os autores desconhecidos ou colegas. Quando ocorrem no universo familiar surgem na forma de pressões para maior ambição ou como sovas cujos autores são os pais. Os autores do estudo interpretam isto como estando inscrito na vitimação geral ao longo das etapas da vida, bem como na maior exposição dos homens à conflitualidade social.