18.6.08

Pobreza: Rede Europeia quer observatório para a região do Tâmega

in Expresso

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal (REAPN), padre Jardim Moreira, defendeu hoje a criação de um observatório para análise da região do Tâmega, que considerou ser "a zona portuguesa mais problemática" em termos de pobreza e exclusão social.

"A região entrou quase em colapso, é a zona mais problemática do país e uma das mais problemáticas da Europa", afirmou Agostinho Jardim Moreira aos jornalistas.

O sacerdote falava à margem da apresentação do estudo "Nas margens do Tâmega - mercado de trabalho, pobreza e exclusão - interacções e intervenções", promovido pela REAPN e apresentado esta manhã no Porto.

Na opinião de Jardim Moreira, este estudo terá que servir de "ponto de partida" para retirar a região da situação em que se encontra.

De acordo com o estudo, a região do Tâmega regista mais de 20 mil desempregados, sendo os concelhos mais afectados Amarante, Baião e Marco de Canaveses, com as mulheres a representar 70 por cento dos inscritos nos centros de emprego.

Este estudo, que incidiu sobre os concelhos de Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel, indica também que, na região, os níveis de qualificação e escolarização "são muito baixos".

Agostinho Jardim Moreira defendeu a criação de "uma espécie de observatório" que trate de analisar os reais problemas da região e perceba a eficácia das medidas que sejam aplicadas, para fazer face aos seus problemas.

Para Jardim Moreira, o governo e entidades com responsabilidades a nível regional "devem intervir", seriamente, "na qualificação e na injecção de fontes de riqueza" na região, para que o actual cenário seja alterado.

Adiantou ainda ser necessário apostar mais na qualificação da população e na instalação de mais empresas na região.

"É fundamental ter empresas e mais qualificação", frisou o sacerdote, sustentando que "a subsídio-dependência não é solução".

Jardim Moreira manifestou-se a favor da regionalização, considerando que "o espírito de centralização deste governo esvazia os poderes locais", o que impossibilita a criação de mais respostas a nível local.

"O que está a acontecer é que as populações locais estão a ficar sozinhas e abandonadas", frisou Jardim Moreira para quem "a sociedade civil não é suficientemente apoiada pelo Estado".

O presidente da Câmara de Baião, José Luís Carneiro, um dos concelhos que é considerado neste estudo como dos mais afectados pelo desemprego, afirmou aos jornalistas que o Governo "deve criar ajudas financeiras específicas para a região, para que os municípios consigam, contornar os problemas".

"Necessitamos de um financiamento específico para fazer face às imensas dificuldades com que estamos confrontados", afirmou o autarca socialista.

José Luís Carneiro sustentou também que os problemas do seu município, bem como doutros da região do Tâmega, "exigem uma resposta diferenciada".

"Para fazer face à pobreza e à exclusão social é preciso criar equipas multidisciplinares na área da psicologia, sociologia e eventualmente do direito", disse Jardim Moreira.

O presidente da REAPN salientou que isso [a criação de equipas multidisciplinares] implica financiamento e as autarquias têm a despesa corrente no limite".