5.6.08

BD ilustra e questiona Objectivos do Milénio

Sofia Branco, in Jornal Público

João Paulo Cotrim e oito ilustradores criaram Maria para mostrar que as oito metas enunciadas pela ONU são "verdadeiramente revolucionárias"


O que é que os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio têm a ver comigo? É a esta pergunta que Maria, a personagem criada pelo argumentista João Paulo Cotrim e oito ilustradores de banda desenhada portugueses, pretende dar resposta no livro Vencer os Medos, que será lançado no quadro da iniciativa governamental Dias do Desenvolvimento, que começa hoje, em Lisboa.

João Fazenda, Susa Monteiro, Maria João Worm, Pedro Burgos, Tiago Albuquerque, Miguel Rocha, Rui Lacas e Alex Gozblau foram os ilustradores escolhidos por João Paulo Cotrim, criador de livros infantis e de filmes de animação, para responder ao desafio lançado pelo Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), agência governamental que gere a cooperação portuguesa, de colmatar a "carência de informação" sobre as oito metas que as Nações Unidas querem ver cumpridas até 2015.

"Não me considero uma pessoa mal informada [e] confesso que não sabia" nada sobre os Objectivos do Milénio, admitiu Cotrim ao PÚBLICO. O autor adiantou que desde logo aceitou coordenar o livro, dada a "empatia com a ideia" de que esta é "a primeira geração que tem os meios e que está alerta a ponto de poder fazer alguma coisa para acabar com alguns dos problemas" enunciados pela ONU, que vão da erradicação da pobreza à garantia de educação primária para todos, passando pela redução da mortalidade infantil.

Realistas, revolucionários

Os Objectivos do Milénio são "verdadeiramente revolucionários", porque "realistas", porque "é possível" atingi-los, sublinha Cotrim: "Não são discursos de misses, em que se promete acabar com a fome".

As oito bandas desenhadas, com "estilos distintos", têm em comum Maria. É Maria e não José porque "as mulheres ainda estão no centro das desgraças" e resultam em personagens "mais interventivas, porque mais múltiplas e mais complexas" e também "mais capazes de interrogar, mais atentas", explica João Paulo Cotrim.
As histórias, "umas simbólicas, outras mais emocionais, outras mais racionais", tentam fugir ao "explicativo", ao "óbvio", ao "directo" e ao "politicamente correcto", concretiza Cotrim. A ideia era que o livro, editado pela Assírio e Alvim, funcionasse como "objecto estético", sendo que a banda desenhada tem a vantagem de ser "portátil" e de gerar facilmente "empatia com o boneco".

Maria não julga

Na sua bicicleta, Maria, "uma jovem, DJ, urbana", percorre vários universos, cheia de "dúvidas" sobre os problemas do mundo. "Qualquer pessoa se pode rever em Maria, pelo menos nas suas interrogações", reflecte João Paulo Cotrim. "E que culpa tenho eu que o mundo tenha uma lista interminável de problemas?", questiona a personagem, numa das tiras.

Sem "julgar os outros e o mundo", sem "superioridade moral ou paternalismo" e contornando a ideia de que ajudar os outros é "um imperativo", Maria assume: "É que detesto o politicamente correcto e nem sou militante de nenhuma causa, sou apenas alguém que passa música..."

Maria será a personagem que a campanha nacional do próximo ano usará em vários formatos para promover a divulgação dos Objectivos do Milénio. Uma exposição e um microfilme de um minuto serão apresentados também durante os Dias do Desenvolvimento. "O mundo é a minha casa", conclui Maria na última história.