27.6.08

Há hospitais que recebem alguns casos de crianças alcoolizadas

Catarina Gomes, in Jornal Público

Dados nacionais referentes a 2006 indicam que 13 por cento dos alunos entre os 12 e os 14 anos já se embebedaram alguma vez na vida

A ministra da Saúde disse que "não é raro" verem-se crianças até nove anos em coma alcoólico nos hospitais


a As urgências pediátricas do Hospital de São João, no Porto, já receberam casos de crianças alcoolizadas. O número de casos não está levantado, mas "vão acontecendo", diz Almeida Santos, director da Unidade Autónoma de Gestão da Mulher e da Criança no estabelecimento. A ministra da Saúde, Ana Jorge, disse anteontem, no Fórum Nacional sobre o Álcool, que "não é raro" haver crianças de sete, oito e nove anos em coma alcoólico a acorrer a serviços hospitalares.

O responsável lembra-se de casos de miúdos com as idades referidas que bebem de garrafas que encontram em casa num gesto de "imitação dos pais". O médico diz que ainda hoje é possível ver pais "a molhar a chupeta do filho em brandy". "É o princípio do contacto com bebidas alcoólicas. A criança vai ganhar o gosto por imitação." São casos que acontecem "em meios culturalmente menos desenvolvidos", diz Almeida Santos, lembrando o antigo hábito "de nas nossas aldeias porem vinho no biberão dos bebés para acalmá-los".

Almeida Santos considera que "há muito trabalho a fazer" e lembra que ao pediatra particular só vai quem pode pagar e que os hospitais estão vocacionados para o tratamento e não tanto para a prevenção destas situações.

Às urgências do Hospital Pediátrico de Coimbra, que atende crianças até aos 12 anos, também chegam casos de miúdos alcoolizados "com alguma regularidade", mas neste período não há nenhum surto, refere fonte da instituição, explicando que é nas faixas mais velhas que há mais casos. Ana Jorge aludia à sua experiência de 30 anos à frente de serviços hospitalares de pediatria quando referiu que estes casos aconteciam mais no final das actividades escolares ou festas populares.

No Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, o coordenador do Serviço de Pediatria Médica, José Cabral, respondeu por e-mail "não ter conhecimento de internamentos de crianças com intoxicação alcoólica aguda voluntária". Há sim uma maior frequência de adolescentes com 14 a 16 anos com intoxicações alcoólicas na altura de festividades e dias de concertos.

Dados preliminares do último Inquérito Nacional em Meio Escolar, apresentado este ano com dados de 2006, revelam que 13 por cento dos alunos entre o 7.º e 9.º ano - com idades que andam entre os 12 e 14 anos - já se tinham embriagado alguma vez na vida.