12.6.08

Presidente do IDT admite falhanço do programa de troca de seringas nas prisões

Sofia Rodrigues, in Jornal de Notícias

Programa experimental iniciado no final de 2007 será reavaliado e poderá sofrer alterações


O presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), João Goulão, reconheceu ontem, na Assembleia da República, que o programa de troca de seringas nas prisões falhou. A falta de confiança dos reclusos e o boicote dos guardas prisionais podem estar na origem da fraca adesão ao programa, disse Goulão, que espera ainda por um relatório de avaliação.

Apesar de estar ainda em curso um inquérito para apurar as razões do insucesso, o presidente do IDT referiu que o programa - adoptado no final de 2007, a título experimental, nas prisões de Paços de Ferreira e Lisboa - foi "suficientemente boicotado". No final da audição, esclareceu que o sindicato dos guardas prisionais sempre boicotou o programa e que houve falta de confiança por parte dos reclusos. Uma das soluções a adoptar poderá ser a colocação de máquinas automáticas de seringas nas prisões.

Goulão foi chamado ao Parlamento, a pedido do CDS-PP, para dar explicações sobre o dicionário de "calão" colocado num site do instituto na Internet e que continha várias definições polémicas. Em www.tu-alinhas.pt, curtir era definido como "sentir o prazer da droga" e betinho era aquele que "não consome droga e, por isso, é considerado conservador ".

João Goulão reconheceu que houve um erro técnico e que as expressões já foram retiradas. "É errado porque sabemos que há betinhos que se drogam", disse, argumentando, no entanto, que a informação prestada no site não ajuda a aumentar os consumos.

Na mesma linha pronunciaram-se os partidos de esquerda. "Não é por ve-
rem a palavra curtir que os jovens dizem 'então vamos lá curtir as drogas'", disse Bernardino Soares, do PCP, acusando o CDS-PP de "querer discutir aquilo que empola". João Semedo, do BE, também acusou o CDS-PP de não encarar a toxicodependência como uma patologia e comparou o deputado popular Nuno Melo a um dealer por vender a ilusão da cura.