11.6.08

Presidente desafia portugueses a serem exigentes e passa ao lado da crise

Filomena Fontes, in Jornal Público

Em Viana do Castelo, José Sócrates foi vaiado e Cavaco aplaudido. O Presidente quer mais investimento na diplomacia e diz que as reformas na Defesa devem prosseguir


Aplausos e apelos ao Presidente da República, vaias e assobios para o primeiro-ministro. E algumas palmas. Ontem, em Viana do Castelo, o povo dividiu-se nas comemorações o Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

Obrigado senhor Presidente, ligue ao povo, é preciso ligar ao povo!; clamava um pescador. Eu sei que o senhor Presidente está atento!, gritava uma mulher, já depois de ter conseguido cumprimentar Cavaco Silva pessoalmente.

A encruzilhada do país ficava ali retratada. Não foi dela que o Presidente quis ontem falar. Na sessão solene do 10 de Junho, Cavaco Silva não arriscou, desta vez, um não me resigno, como fizera no ano passado.

No seu discurso, não coube também qualquer alusão às desigualdades sociais, ao incipiente crescimento económico do país, ao atraso face ao progresso dos nossos parceiros europeus.

Cavaco preferiu regressar à diáspora, para dissertar sobre o universalismo português, esse poderoso esteio sobre o qual poderemos projectar o nosso futuro, fortalecendo a cooperação regional e global entre estados para fazer frente a ameaças como a desregulação nos mercados, designadamente dos combustíveis e dos produtos alimentares.

Não ignoro e tenho-o dito muitas vezes que o valor atribuído no plano internacional ao universalismo português depende em muito do crédito que tiver a nossa política interna, advertiu. De seguida, desafiou directamente os portugueses a serem exigentes e rigorosos consigo próprios.

Diz o Presidente que um país onde as instituições não sejam fiáveis, que não cresça e não inove, criando riqueza e oportunidades para todos, que não tenha uma escola de onde saiam elites capazes de integrar a sociedade do conhecimento e lidar com as tecnologias mais avançadas, nem confia no seu próprio futuro, dificilmente vencerá.

As amizades contam

Nada que não esteja em convergência com a agenda política do Governo, que foi directamente desafiado a investir na rede diplomática e consular, a aproveitar a capacidade empreendedora dos cinco milhões de portugueses que se espalham pelo mundo, a apoiar a internacionalização das empresas e reforçar a capacidade de captação de investimento. Enfim, a promover a língua portuguesa e as relações bilaterais com os estados lusófonos. Em política internacional, as amizades contam, lembrou. Antes, já Cavaco tinha elogiado a presidência portuguesa da União Europeia: O Tratado de Lisboa representa uma inequívoca vitória da diplomacia.

No final da sessão, em declarações aos jornalistas, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, tranquilizava o Presidente, anunciando \u201Cum reforço do investimento na rede diplomática portuguesa\u201D, bem como medidas importantes para a expansão da língua e da cultura portuguesas no mundo.

De resto, também o ministro da Defesa se congratulou com o discurso do Presidente às Forças Armadas. Cavaco defendeu que as importantes reformas que têm vindo a ser conduzidas no âmbito da defesa nacional devem prosseguir o rumo já iniciado, no sentido da criação de estruturas mais ágeis e eficazes.

Alertando para a necessidade de a reestruturação das carreiras acautelar simultaneamente a permanência de quadros altamente especializados e a captação de novos voluntários, o Presidente pediu investimento para assegurar a operacionalidade das forças, mas não deixou de aludir ao cenário de contenção orçamental no país que exige racionalização de meios.

Revejo-me totalmente nas declarações do senhor Presidente da República, tanto no que diz respeito ao elogio das Forças Armadas, como ao seu papel e à necessidade de continuar as reformas em curso\u201D, comentou Severiano Teixeira.