in Rádio Renascença
O Arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, manifesta-se, em entrevista à Rádio Renascença, preocupado com a crescente precariedade financeira dos portugueses.
D. Jorge Ortiga considera também que uma manifestação como a de ontem, do CGTP, que leva 200 mil pessoas à rua, é um alerta que o Estado tem de acolher.
“As greves e as manifestações são um direito das populações, e o Governo deve ter a capacidade de ler esses acontecimentos tirando conclusões práticas e concretas. 200 mil pessoas que deixam de trabalhar, aderem a uma greve e participam numa manifestação, isto é um alerta e um alerta de insatisfação porque como eles, outras pessoas se encontrariam em situações idênticas. Por isso considero que é um alerta que devia ser acolhido, pelo menos para pôr as instâncias a pensar.”
Em vez disso, o presidente da Conferência Episcopal vê os governantes a alhearem-se dos problemas do país.
“Eu vejo que o poder político nesta área procura encontrar desculpas, alhear-se um pouco à situação, mas por outro lado começo a verificar que há municípios, incluindo municípios da cor do Governo, que começam a dizer que se houver necessidade já cortam àquelas obras que já estavam planeadas e programadas para poder ir de encontro a situações de carência das pessoas nos concelhos que lhes estão confiados. Talvez seja preciso ter coragem de não pensar em tantas outras coisas que, sendo necessárias poderão esperar um pouco mais, para ter em conta estas situações, algumas das quais não podem esperar.”
A crescente pobreza dos portugueses, devido à crise internacional, é um assunto que preocupa o arcebispo. O facto de esta ser uma “pobreza envergonhada” significa que muitos dos atingidos evitam mostrar a sua situação.
“A pobreza é uma realidade que cresce cada vez mais. As pessoas que viviam numa situação média, há uns anos, hoje vivem com alguma dificuldade. O que preocupa cada vez mais é esta pobreza caracterizada pela vergonha, uma pobreza envergonhada, em que as pessoas não se manifestam, não dizem como se encontram, por um condicionalismo social que vivem ou viveram, se bem que o número dos que não atingem os níveis necessários para uma vida minimamente digna também cresce, e cresce assustadoramente.”
O aumento do preço dos combustíveis, e a situação dos pescadores, “gente simples, humilde e trabalhadora”, também mereceram comentários de D. Jorge Ortiga, que se mostra satisfeito por se ter conseguido, através do diálogo, um acordo entre as duas partes.
“Todos os aumentos, no caso concreto do petróleo, por exemplo, fazem com que muitos não consigam trabalhar com um mínimo de capacidade de lucro para poder sobreviver, porque o dinheiro vai todo para essas despesas.
Dou graças a Deus pelo facto de, através do diálogo, terem chegado mais ou menos a um acordo e espero que seja uma resposta adequada a esses pescadores que ao fim ao cabo são a gente mais simples e mais humilde e que, num trabalho muito duro e muito difícil precisam também de uma maior atenção.”