29.6.08

Bento XVI e Cavaco Silva falaram sobre a regulamentação da Concordata e o estado do mundo

Carlos Pessoa, in Jornal Público

A audiência foi um "encontro importante" e uma "conversa útil" sobre a Europa, África e Timor-Leste. O Papa foi convidado a visitar Portugal


Os progressos na regulamentação da Concordata entre Portugal e a Santa Sé foram um dos temas da audiência privada que Bento XVI concedeu ontem no Vaticano ao Presidente da República.

"Existe uma comissão paritária que está neste momento a trabalhar com resultados positivos e Portugal irá respeitar totalmente a letra e o espírito da Concordata", disse Cavaco Silva.

O chefe de Estado adiantou que "já há propostas no que diz respeito à acção da Igreja nas prisões, nos estabelecimentos militares e nos hospitais". Essas ideias, acrescentou, foram muito bem acolhidas pela Santa Sé.

Foi "um encontro importante" e "uma conversa útil", concluiu o Presidente da República depois da audiência, durante uma reunião com os media na Embaixada de Portugal, em Roma. "Para mim, como católico e chefe de Estado de uma nação que tem uma forte tradição católica, é sempre um acto de alguma emoção, mas eu trazia uma agenda bem definida para as conversas com o Santo Padre e com o secretário de Estado, o cardeal Bertoni", confessou.

Além das relações bilaterais, Bento XVI e Cavaco Silva abordaram os temas da União Europeia e o Tratado de Lisboa, África e Timor-Leste.

O Presidente da República comentou ao Papa que a Europa vive um momento "difícil" em consequência do resultado do referendo na Irlanda. "Sabemos a influência da Igreja Católica na Irlanda, que apoiou o referendo, no sentido do voto pelo sim, mas talvez tenha sido um pouco tarde", disse.

Sobre África, que tem sido um dos temas preferidos de Bento XVI, Cavaco Silva lembrou que Portugal tem uma relação "muito especial" com aquele continente.
"Como é óbvio, falámos sobre os países de língua oficial portuguesa que são exemplos positivos em comparação com a situação trágica que se vive no Zimbabwe e que a comunidade internacional não pode ignorar", disse o chefe de Estado.

Os casos de Moçambique - "um bom exemplo do funcionamento das instituições democráticas, tal como Cabo Verde" - e Timor-Leste estiveram também na agenda da audiência. Relativamente a este último país, Cavaco Silva disse ter sensibilizado o Papa Bento XVI para o facto de a Igreja católica constituir "uma referência decisiva" na identidade cultural do país: "As instituições são ainda frágeis em Timor e a voz dos bispos é talvez uma voz mais forte do que a dos líderes dos partidos políticos", frisou.

Cavaco Silva expressou a sua satisfação por constatar "que o Santo Padre estava bem informado sobre as questões de política internacional abordadas durante as conversações". O Presidente da República aproveitou a ocasião para dizer a Bento XVI que "seria uma grande honra" acolher o Papa em Portugal. Com Lusa