Ana Fernandes, em Roma, in Jornal Público
Falar-se-á muito de crise e de soluções. Pedir-se-á dinheiro e os países vão dividir-se sobre subsídios e biocombustíveis. Não se esperam grandes compromissos
Aquela que começou por ser uma conferência, sobretudo técnica, destinada a discutir os problemas da segurança alimentar, alterações climáticas e bioenergia, transformou-se, nos últimos meses, numa cimeira de alto nível, onde muitos líderes fizeram questão de marcar presença. O gatilho foi a crise alimentar mundial e agora as atenções convergem para Roma onde, de hoje a quinta-feira, se vai medir o pulso às vontades mundiais em alterar a situação.
Não se esperam grandes decisões deste encontro da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Os observadores encaram-no como um primeiro grande debate que dará início às negociações sobre os passos necessários para fazer face à crise. Falar-se-á de medidas de curto prazo - como a ajuda humanitária - e de médio e longo prazo. Nestas últimas, contam-se as ajudas à produção agrícola nos países mais pobres e que terão de ascender, segundo a FAO, a 1100 milhões de euros.
Os países serão confrontados com um plano de acção apresentado por Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, mas os testes aos compromissos que irão assumir terão lugar mais à frente, primeiro no encontro do G8 (países mais industrializados) mas sobretudo nas negociações sobre Doha da Organização Mundial de Comércio. Já em Roma, Ban Ki-moon responsabilizou os governantes pela crise. "Renunciaram a tomar decisões difíceis e subavaliaram a necessidade de investir na agricultura. Hoje estamos literalmente a pagar o preço", acusou.
Apesar de ser um pontapé de saída, Roma não deixará de ter as suas polémicas. Que, aliás, já começaram. A confirmação de que os presidentes do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, e do Zimbabwe, Robert Mugabe, estarão presentes começou a dar que falar e partidos e associações de esquerda italianas já marcaram protestos.
Mas muitos outros chefes de Estado e de Governo prometeram estar presentes, desde o brasileiro Lula da Silva ao francês Nicolas Sarkozy, passando pelo espanhol José Luis Zapatero. De Portugal estará o ministro da Agricultura, Jaime Silva.
A crise alimentar, provocada pela escalada dos preços do petróleo e por aumentos da procura não acompanhados pela oferta, vai abafar as discussões sobre as alterações climáticas.
Os 193 países preparam-se para aprovar uma declaração onde prometem responder aos desafios. Mas, segundo a versão a que o PÚBLICO teve acesso, há muitas arestas a limar. Arestas inevitavelmente ligadas às questões políticas mais sensíveis: os subsídios dados aos agricultores dos países ricos, as restrições às importações e os biocombustíveis.