18.6.08

Mulheres salvam números do emprego na Região Norte

Abel Coentrão, in Jornal Público

Vinte mil dos 25 mil novos empregos criados foram para elas, a mais forte
subida em seis anos


O desemprego continua a diminuir na Região Norte. Era de 9,5 por cento no final do primeiro trimestre de 2007. Estava nos 8,6 por cento no final de Março deste ano. As estatísticas e a economia da região ficam a dever a evolução positiva às mulheres que, com uma quebra no desemprego de 16,8 por cento desde Abril do ano passado, protagonizaram a mais forte queda desde há pelo menos sete anos, compensando a manutenção de uma tendência negativa nos homens.

Já se sabia que o emprego é também uma questão de género. E os números do último relatório Norte Conjuntura ontem divulgado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDR-N) apontam precisamente nesse sentido. Os dados recolhidos junto de vários organismos públicos e privados, entre eles o Instituto Nacional de Estatística (INE), dão conta de que verdades enraízadas nas notícias dos últimos anos, como a de que o desemprego "feminino" é maior do que o masculino, mantêm-se. Mas dizem também que, no caso desta, está perto de ser desmentida pela realidade.

No final de Abril de 2007 havia 11,9 por cento de mulheres sem emprego, contra 7,3 por cento de homens na mesma situação, quando a taxa nacional era de 8,4 por cento. Em Abril deste ano, quando a taxa nacional tinha baixado para os 7,6 por cento, há 7,5 por cento de homens do Norte sem trabalho (um aumento de duas décimas), enquanto entre elas esta taxa se situava nos 9,9 pontos. Uma quebra sem paralelo que ajudou a que a situação regional (8,6 pontos) melhorasse para níveis de há três anos.

Para esta aproximação das taxas de desemprego contribuiu, e muito, neste ano, o peso delas no saldo positivo de quase 25 mil empregos registado entre Março de 2007 e o mesmo mês de 2008. Quatro quintos, ou seja, 20 mil postos de trabalho, foram para mulheres, numa dinâmica que contrariou a tendência dos dois anos anteriores em que os homens estavam em vantagem nesta repartição. Aliás, neste "elogio" estatístico ao sexo feminino, a CCDR-N nota que o crescimento homólogo de 2,5 por cento no emprego criado é o mais forte acréscimo dos últimos seis anos. E onde foram encontrar o emprego que eles não encontraram: os dados apontam para outra realidade já prevista pelos especialistas, a da progressiva terciarização da região, com impacte nas áreas onde as mulheres têm tradicionalmente alguma preponderância.

9,9
por cento foi a taxa de desemprego registada entre as mulheres, no Norte, em Abril deste ano, contra 11,9 em Abril de 2007

Local Porto

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, a descida do desemprego na Região Norte "beneficiou em especial" os trabalhadores atingidos pela reestruturação da indústria transformadora da região. E também os indivíduos desempregados há menos tempo. Consequência deste facto, um outro emerge das estatísticas: o aumento do peso dos desempregados de longa duração entre o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano. Os que procuram trabalho há um ano ou mais eram, no final de Março, 55,6 por cento do total de desempregados. E os que não tinham trabalho há mais de dois anos eram 31,4 por cento. Ou seja, mesmo assumindo que, em termos homólogos, estas percentagens representam um pequeno decréscimo em relação a 2007, a percepção de que 87 por cento dos desempregados registados pelo INE estão, pelo menos há um ano, sem trabalho, dá uma noção, ainda que estrtitamente numérica, da crise social que a região enfrenta e para a qual ainda não encontrou respostas. Que, só em parte, passarão pela reintegração destas pessoas no mercado de trabalho.