Joana Azevedo Viana, in Jornal Público
Os jornais italianos expressaram ontem choque e horror ao publicarem fotos dos corpos de duas crianças de etnia cigana mortas, na praia de Torregaveta, a norte de Nápoles, a metros de distância de banhistas a apanhar sol e a jogar futebol.
"Enquanto os corpos sem vida das meninas ainda estavam na areia, as pessoas voltaram aos seus banhos de sol e aos seus lanches a metros de distância", descrevia o La Republicca. As fotografias mostravam as pessoas deitadas a beber sumos e a apanhar sol, próximas dos pés descobertos de Cristina e Viola Ibramovitc (parentes mas não irmãs), tapadas com toalhas. Outras mostravam a polícia a transportar os corpos em caixões entre pessoas deitadas ao sol.
As quatro meninas terão ido para a praia, no sábado, vender quinquilharia e pedir, e decidiram dar um mergulho. Uma testemunha relatou à televisão italiana que "a água estava agreste e ninguém estava no mar, mas as quatro crianças ciganas correram para a água. A praia estava cheia de gente e as pessoas começaram a perceber que as crianças estavam em apuros porque as ouviram a gritar e a pedir ajuda. Algumas pessoas entraram na água e conseguiram salvar duas, mas as outras duas foram resgatadas já sem vida".
Laura Boldrini, do Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, perguntava ontem, na imprensa italiana, "se as pessoas teriam reagido assim se as meninas fossem italianas e não ciganas".
As tensões entre as autoridades italianas e a minoria étnica cigana no país estão a aumentar, graças à política do Governo Berlusconi, que começou a recolher impressões digitais de ciganos. O ministro do interior, Roberto Maroni, propôs, há um mês, que se criasse uma base de dados com as impressões digitais de todas as crianças ciganas do país, para evitar que as suas famílias as mandem mendigar. A proposta foi largamente condenada. Itália começou a recolher no mês passado impressões digitais de todos os ciganos residentes no país