19.7.08

Tentativas de assalto no bairro continuam

C.V., in Jornal Público

Tentativas de assalto no bairro continuam a ocorrer, denuncia Pastoral dos Ciganos

Francisco Monteiro, director executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC), até gostaria de acreditar nas garantias da Câmara de Loures e do Governo Civil de Lisboa de que as condições de segurança estão finalmente asseguradas na Quinta da Fonte. Mas os relatos que ontem lhe chegavam do bairro continuavam a não ser encorajadores. "Ontem à noite [quinta-feira], um morador cigano que voltou a casa teve que sair sob escolta policial depois de ter sido acossado pelo mesmo gangue. Hoje [sexta-feira], as tentativas de assalto continuam a ocorrer no bairro", contou ao PÚBLICO.

Monteiro acusou as autoridades de "preconceito e desrespeito" para com os ciganos. Na Quinta da Fonte, conta o director da ONPC, uma organização ligada à Igreja Católica, a "transferência" de propriedade é feita à luz do dia - "podem ver-se pessoas com os móveis, que tiraram das casas de outros, de um lado para outro". Uma pergunta que se impõe: "Onde está a polícia?" "O terror existe há muito" naquele bairro, denuncia Francisco Monteiro, frisando que é essa a razão da recusa dos ciganos em regressar às suas casas. "Estão aterrados."Passos para sair da crise, segundo o director da ONPC: primeiro, garantir de facto condições de segurança, só depois providenciar o regresso e, finalmente, deitar mãos ao fundamental - aquilo, defende, que não tem sido garantido pela Câmara de Loures e que ajudou a propiciar a explosão: "Uma mediação e gestão eficazes" por via de uma comissão de acompanhamento, onde tenham assento representantes das diferentes etnias. Esta comissão deve ajudar a identificar os "pequenos grupos" que provocam conflitos, bem como a dirimir tensões e a pacificar sentimentos de risco, como o da "repulsa étnica". Parecem gritos no deserto.

"Que a convivência prevaleça sobre as rupturas, que os preconceitos de poder e predomínio dêem lugar à aceitação das diferenças", apelou em comunicado a OPNC. É esta também a proposta ontem feita por três associações de jovens da Quinta da Fonte, cuja actividade foi elogiada no mês passado por Cavaco Silva. Na segunda-feira à noite, a Associação de Jovens da Apelação, Vitamina C e Clube Cidadania vão promover uma Marcha pela Paz e, na próxima quarta-feira, vão pintar um mural, com a colaboração de profissionais de graffiti, que será inaugurado dia 26. A partir dessa altura propõem-se fazer o que já foi feito, por exemplo, em Chelas, embora sem resultados de maior: pintar as paredes dos prédios do bairro que foi construído há 14 anos para realojar no máximo 130 famílias, mas que hoje acolhe mais de 500.

500
É o número aproximado de famílias que vivem na Quinta da Fonte. O bairro foi projectado há 14 anos para um máximo de 130