28.7.08

Enganar uma crise que não tira férias

Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias

Pelo segundo ano consecutivo, a família Maltinha, do Cartaxo, alugou um apartamento de dois quartos na Quarteira, a cerca de 600 metros da praia. A ideia é estar próximo do mar, andar pouco, mesmo que o valor do aluguer seja um pouco elevado.

João Maltinha, 43 anos, é operador de máquinas e goza férias com a mulher, Ascenção, de 40 anos e escriturária, e com o pequeno Miguel, de 11 anos. Partilham o apartamento que alugaram por sete dias a 780 euros, com os sobrinhos Artur Venâncio, 27 anos e electricista de manutenção, a mulher, Carla, de 30 anos, empregada de mesa, e o pequeno Bernardo de um ano e meio.

Em tempo de crise, a família opta por fazer as refeições em casa. Aliás, Artur "é um excelente cozinheiro", garante a mulher Carla, admitindo que "este ano está tudo mais caro". Mesmo assim, diz João Maltinha, "as pessoas têm de fazer férias", que acabam por ser "uma estravagância", talvez "a única que se faz durante o ano".

"Motivos profissionais" são invocados por esta família para o gozo de apenas sete dias de férias no Algarve. A escolha de Quarteira que, admite Carla, "não é o destino de eleição", teve a ver com os preços praticados nos alugueres. A crise, admitem, "é uma realidade", mas a verdade "é que tudo está mais caro". "Podiam baixar os preços, mas nem isso, as casas continuam caras", diz João Maltinha.

As férias são passadas sem grandes estravagâncias. A manhã é vivida no areal e o almoço é saboreado em casa. O regresso à habitação alugada é feita ao final do dia, onde se preparam os jantares. Uma semana de descanso "sem pensar muito na crise".

A proximidade entre a praia e o parque de campismo e o gozo que dá acampar levaram dois casais do concelho de Serpa até ao parque de campismo de Monte Gordo. António Galamba, 28 anos, motorista de serviço público, e a companheira, Maria João Belicha, 27 anos, professora, fizeram-se acompanhar de Sónia Neto, 27, engenheira do ambiente, e do companheiro, João Valada, 29 anos, engenheiro civil. Residem em Vila Nova de São Bento, no concelho de Serpa, e habitualmente passam 15 dias de férias no parque de campismo de Monte Gordo. Este ano, optaram por vir apenas quatro dias, de sexta a segunda-feira e apenas "por questões profissionais". Não dá para conciliar mais tempo", assegura Sónia, revelando terem já passado férias juntos este ano noutros locais.

A escolha do espaço "sem condições", asseguram ao JN, continua a ser feita ano após ano apenas "porque fica próximo da praia e podemos andar a pé", diz Sónia. Os outros concordam e Maria João até diz que o aluguer do espaço "é caro para as condições que tem". "Vamos pagar mais de cinco euros por dia por uma pessoa e tenda", revela.

A verdade é que "tudo está mais caro" e, segundo estes casais, "este ano há menos gente no parque". Nessa manhã, Maria João recorda uma ida ao supermercado: "Paguei cinco euros por um bocado de manteiga, queijo e fiambre. Mais valia ter tomado o pequeno-almoço num café", desabafa.

Poupando no combustível do automóvel, os casais optam por fazer a maioria das refeições em restaurantes. A ementa é sempre à base de peixe. "Temos de aproveitar estar perto do mar e comer peixe", asseguram.

"Está tudo muito mais e caro e há cada vez menos dinheiro". A afirmação é de Jacinto Rolin Soles, 52 anos, mecânico, que este ano optou por passar férias em família em Albufeira. Acompanham-no a mulher Nazaré, 49 anos e desempregada, a filha Mónica, 27 anos, e o marido Francisco, 34 anos, e uma sobrinha, a Sandra. Alexandre, de quatro anos, e Maria Francisca, de 15 meses, fazem também parte desta família que reside em Coimbra.

No apartamento de dois quartos que alugaram por 11 dias, vão pagar 85 euros por noite. "E mesmo assim aproveitámos uma promoção", explica Mónica, que antes de rumar ao Algarve pesquisou na Internet e verificou que, por exemplo "em Armação de Pêra, as casas estão muito mais caras".

Depois de terem estado o ano passado em Altura, a família Soles escolheu este ano Albufeira e para já está satisfeita. Jacinto admite que "no Algarve é tudo mais caro e por isso se gasta mais dinheiro", e porque o ano é de crise "as refeições são todas feitas em casa". "Aqui praticam-se preços para estrangeiros e não para os portugueses", admite Mónica.

Mas as férias, diz Jacinto, "são uma necessidade" e "não um capricho". "Temos mesmo de relaxar nas férias", sustenta, admitindo que "tudo é contado" para que não surjam gastos desnecessários.

"Gastámos mais de 30 euros em portagens só numa viagem", refere Francisco, interrompido rapidamente por Jacinto, que lembra o combustível que se gasta em viagens de Coimbra a Albufeira, que "têm de ser multiplicadas por dois carros". Afinal, diz, "não cabíamos todos no mesmo".